Solidez, cooperação e independência. Lições da ACIA Poços
Desde o final de julho este
projeto vem acompanhando como o movimento surgido de um grupo deempresários vem renovando o ambiente de negócios de Poços de Caldas, com pautas
contemporâneas, como o grupo “101 Líderes” pensando o município como uma’ Smart
City”, ou ultrapassando a filantropia
quando assumem uma preocupação social como no caso do “Empresas Imunes”. Hoje
estes grupos assumiram o planejamento econômico do poder público municipal e
realmente fizeram um “raio X” das potencialidades da cidade, buscando a maior
precisão possível ao mirar as alternativas de desenvolvimento sustentável em
médio e longo prazo, trazendo à tona setores e nichos esquecidos ou quase
desconhecidos. Como estamos falando de um polo regional extremamente diferenciado, que influencia e recebe influência cotidiana de outros centros de
estados diferentes, como Pouso Alegre e São João da Boa Vista, além de
assimilar o que turistas trazem do país inteiro, optou-se aqui por trazer uma
reflexão sobre o papel da Associação Comercial, Industrial e Agropecuária (ACIA),
que cumpre uma função estabilizadora complementar à impulso inovador das novas
iniciativas vistas atualmente.
Se
considerarmos que escrevi sobre a coalisão de forças que deu origem ao Plano de
Retomada Econômica no início de agosto, pode-se dizer que muito do histórico no
período mais drástico da quarentena já foi tratado, e é de conhecimento de
todos. Fechamento, flexibilização, recrudescimento com a adesão compulsória ao “Minas
Consciente”. A verdade é que durante todo este período a ACIA negociou cada
passo com a prefeitura, através de ofícios, comunicados conjuntos, articulação
de setores empresariais e organizações da sociedade civil da cidade, busca de
alternativas para seus associados, divulgação de sua “Rede de descontos”. Como
disse o seu presidente logo no início da pandemia, não se pode confundir silencio
com inatividade, até porque esta presença contínua não foi divulgada diariamente,
mas aconteceu em momentos cerimoniais, como os Cafés Empresariais. Isso porque
ela não atuou como uma mobilização empresarial rompedora de barreiras e
desbravadora de possibilidades, mas com todos os cuidados que seu peso de
entidade quase centenária.
Internamente,
operou seu papel tanto de conectar agentes econômicos, mas entidades igualmente
tradicionais no “Fórum Desenvolvimento e Cidadania”, como sindicatos patronais,
Lions, Rotary, várias lojas maçônicas, OAB, somando mais de 20 organizações. Esta
articulação de setores organizados
historicamente fortes liderada pela ACIA vem desde 2016, e demonstra o papel
fundamental de contrapeso em relação ao poder público local, proporcionando uma
visão independente fora do da prefeitura. Esta independência institucional permite
uma imparcialidade política muito preciosa, distanciando o “Fórum” dos apetites
imediatistas da política e do mercado e potencializando uma força
estabilizadora extremamente necessária para um projeto de desenvolvimento a
longo prazo. Representar as demandas dos mais variados setores da economia junto
aos agentes políticos sem fazer parte da administração ao longo de décadas traz
à associação uma legitimidade especial, consolidando os princípios da CACB.
Se
dentro de Poços encabeça as demandas de várias forças importantes, externamente
a ACIA não só está articulada à Confederação das Associações Comerciais do
Brasil e à Federaminas, as outras entidades que lidera no “Fórum” tem amplitude
internacional, como a maçonaria. De forma mais pontual, ela agiu em conjunto
com outras 167 associações comerciais para pensar o que fazer diante do caos
provocado pela pandemia. Em vários momentos ressaltou a importância de se
pensar uma retomada em nível regional, tendo ações divulgadas por algumas
associações de cidades vizinhas.
Quando
se representa tantas forças e se está conectada à tantas entidades (local,
estadual, nacional e internacionalmente) assume-se um papel estabilizador,
deixando-se os rompantes inovadoras para agentes políticos e novos agentes
econômicos, dialogando e cooperando com eles. Neste momento de reinvenção generalizada,
trata-se de uma liderança inequívoca, de peso regional, que precisa manter a independência
para cumprir sua função principal. Carrega consigo setores já estabelecidos e
anseios nobres, e cumprirá a difícil tarefa de adaptá-los a tempos de mudança.
Neste contexto, foi exemplar sua postura de dialogar com os novos agentes
econômicos que guiavam o poder público rumo à um novo mercado, e tem tudo para
se aprimorar neste papel fundamental de autonomia. A ACIA pode ter sua própria pauta
de desenvolvimento, seus projetos, e proporcionar alternativas sem perder o
espírito de cooperação é um desafio imenso. Que o “Fórum Desenvolvimento e
Cidadania” se fortaleça cada vez mais, continue como uma presença constante no
debate público e no planejamento independente de Poços de Caldas.
Introdução ao projeto publicada em
15/9/2020
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/09/projeto-rede-de-desenvolvimento-regiao_15.html
Marcos
Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto
de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder
do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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