Uma liderança natural para a reinvenção. Lições do empresariado de Poços de Caldas


 

A forma com que o empresariado de Poços de Caldas saltou à frente do poder público e demais formas tradicionais de organização na condução da crise salta aos olhos. Logo que comecei a falar das associações comerciais aqui na mogiana paulista recebi a sugestão de Celene Curimbaba para acompanhar a revolução que acontecia aqui na vizinha mineira. Ela me apresentou Diva Funchal, líder empresarial que me apresentou o caminho para começar a desenhar o que acontece no alto da Serra.

Na verdade, um processo de mobilização espontânea dos principais agentes econômicos já vinha acontecendo há pelo menos 3 anos, e por isso estavam mais que preparados para reinventar comércio, serviços, indústria, agropecuária, turismo e o que mais for que dinamize o mercado, do gigante ao micro. Trata-se de um centro que influencia pelo menos outras 13 cidades na divisa entre Minas Gerais e São Paulo, e faz todo o sentido não só sintetizar o que há de especial como espalhar por todas as outras da região.

Pode-se dizer que o surgimento do movimento Empresas Imunes foi um divisor de águas para a recuperação econômica, no qual um grupo de empresários se uniu para ajudar os demais na reorganização gerencial exigida pelas restrições da pandemia em troca de estes não demitirem funcionários (ou demitirem o mínimo possível). Uma iniciativa para autopreservação que sustentou preocupação social, o que garante a legitimidade coletiva para um Plano de Retomada Econômica, compromisso que levou o poder público municipal a abraçar o grupo e o pôs na dianteira da transformação pela qual Poços passará após a crise (e já está passando).

Este processo de integração voluntária que ganhou sua versão contra o caos da pandemia no Empresas Imunes tinha terreno fértil preparado pela ONG “101 Líderes”, grupo institucionalizado ao final de 2017 por empresários que pensavam o futuro da cidade, e já de início apresentaram um plano de implantação de projetos de Cidades Inteligentes (Smart Cities). Logo depois de espaços de coworking e convivência criativa entre os agentes de negócios, voltando-se também para o estímulo ao turismo inteligente e à geração de StartUps inovativas. Ou seja, a organização do alto empresariado local esteve desde o começo voltada para a mais radical modernização do ambiente de negócios, do modo mais saudável possível, coisa digna do Silicon Valley mesmo.

Pode-se dizer que estes dois movimentos confluíram para uma reação menos defensiva em relação à crise, respondendo ao caos da crise com um salto para o futuro que já estava em boa parte mapeado... e o que não estava mapeado está sendo monitorado em alta velocidade. Sob coordenação de Thiago Mariano, um dos fundadores da “101 Líderes”, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedet) está promovendo uma série de levantamentos quantitativos e qualitativos sobre cada canto e cada negócio da cidade, estabelecido ou potencial, e várias possibilidades que estavam emperradas há anos parecem estar em vias de acontecer. Vale mesmo a pena acompanhar o Plano de Retomada Econômica, tanto porque serve de inspiração quanto porque o que acontece lá ressoa em todas as outras.

É bem verdade que provavelmente alguns setores da sociedade terão dificuldade em acompanhar este processo de renovação, assim como acontece em todos os lugares. Acredito que o espírito de mobilização para modernizar a cidade também acontecerá para preparar a capacidade gerencial e a própria cultura dos pequenos empreendedores mais antigos, e este também será um grande desafio. Aos poucos, este processo também deve ser incorporado por instituições tradicionais dos empresários, como associações comerciais, processo geralmente lento e comum em todo processo de mudança social. O fundamental de se apreender do que acontece em Poços de Caldas é sem dúvida o poder de transformação que empreendedores tem quando pensam além do cotidiano dos negócios e quando olham apaixonados para a sociedade aonde vivem. A região inteira pode surfar nesta tsunami.

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


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