Auditoria de resultados e governança pública X: i-GovTI

 

Fonte: INSS inicia hoje projeto-piloto de biometria facial - Época Negócios | Tecnologia (globo.com)


Auditoria de resultados e governança pública X: i-GovTI

Marcos Rehder Batista

 

i. Contextualização

                Fazendo um balanço do que foi escrito nesta investigação até o momento, fica a dúvida se não teria sido o caso do i-GovTI ter sido o primeiro indicador a ser esboçado. Primeiramente porque a digitalização dos processos administrativos, dos serviços à população e do monitoramento dos municípios configuram o cerne da revolução que aqui chamamos de advento do Estado 4.0, sobretudo na relação entre municípios de todas as esferas de nossa estrutura federativa (incluindo as agências públicas de auditoria externa) e entre estes a sociedade; tecnicamente, GovTI é uma ferramenta gerencial que empodera o cidadão, poderia ter vindo junto com i-Planejamento e i-Fiscal. A este questionamento coloca-se a ressalva de ser agora possível entender este indicador como uma oportunidade de rever boa parte do que foi feito, ressaltando o que de revolucionário está acontecendo, algo já adiantado nos dois últimos textos (i-Ambiental e i-Cidades).

                Ter elevado o indicador de governo digital à posição de “abre alas” confluiria diretamente com as angústias e metamorfoses forçadas pela catástrofe natural vivida em todo o planeta, com as restrições que nos fizeram átomos isolados ligados apenas pela web. O mundo se acostumou com soluções virtuais em quase todas as esferas, e o avanço a passos de tartaruga da ficção científica que se apresentava para o futuro de repente galopou. Diante da tragédia, o “novo normal” acabou enfadonho, e se tem algum lado bom nisso tudo é as tecnofobias tiveram que ficar para trás em tecnologias que usamos, mas nem percebemos mais, como andar de bicicleta, o ideal da “tecnologia boa é aquela que a gente não percebe”, e resolve os problemas como passes de mágica. Se começar pelo GovTI seria um gancho fantástico para contextualizar o que viria depois, é igualmente especial fazer um primeiro balanço dos trabalhos com ele.

                Este movimento por muitos conhecido como eGov ou Smart Cities já vem desde os anos 1990, pelo menos, e vinha se acelerando e promovendo transformações na relação entre Estado e Sociedade nos últimos 5, 6 anos (Albuquerque Filho, 2021; Roncaratti at al, 2019). Como consequência, vem acentuando revisões urgentes na estrutura dos Ciclos de Políticas Públicas na medida em que mais pessoas tem acesso à informação, e assim surgem novas demandas e reinvindicações que exige aprimoramento nos mecanismos de interação com a sociedade que vão além dos conselhos municipais, exigindo adoção de instrumentos como design thinking como método rápido de participação e organização da elaboração coletiva de soluções e inovações (Cavalcante et al, 2019).

                Podemos considerar o IEG-M como um instrumento de avaliação da efetividade da atuação de um gestor público em promover a estruturação institucional necessária para o controle de uma forma eficaz e impactar sobre todo o arranjo institucional da sociedade de uma forma efetiva, pois efetividade não trata apenas dos resultados diretos esperados, mas também dos indiretos, nas consequências sobre os demais agentes e o modo com que se organizam (Draibe, 2001). Isto posto, toda esta revolução tecnológica recente gera impactos sobre esta medida, sobre as dinâmicas e novas necessidades.

                O IEG-M pode ser visto como um passo fundamental sobre como estas transformações exigiram uma nova postura dos Tribunais de Contas, e como eles estão respondendo tanto na relação didática direta com as prefeituras e com os cidadãos como na absorção de agendas globais, como a sustentabilidade nos ODS’s, pois as pessoas não vivem mais apenas nas cidades: elas vivem no mundo. Além da conhecida accountability horizontal (setor público-setor público), que trata da fiscalização da atuação do poder público pela auditoria pública quanto à conformidade com a lei, cada vez mais emergente tem-se que dar conta da accountability vertical, avaliando como é a interação e a intervenção mútua entre burocracia de Estado e as pressões heterogênea de uma sociedade cada vez mais plural e mutável (Rocha et al, 2020). Pode-se dizer que o IEG-M foi uma consequência da revolução digital.

                Neste sentido, teremos aqui um resumo das principais iniciativas de implementação de tecnologias digitais na administração e na prestação e serviços feitas no Brasil desde os anos 1990, para em seguida apontar alguns elementos fundamentais sobre este processo e como ele se depara na sociedade. Ao final do texto, haverá a classificação das questões do questionário do i-GovTI de acordo com os Princípios de Governança Pública do Banco Mundial e algumas palavras finais refletindo sobre os critérios do indicador e os processos e impactos anteriormente discutidos.

 

ii. Governo Digital no Brasil: do e-Gov ao smart

                A adoção de tecnologias digitais na gestão pública dos municípios brasileiros remonta anos 1980, e a prestação de serviços ao cidadão tornou-se realidade ainda nos anos 1990 (Albuquerque Filho, 2021). Há vinte anos atrás já se começou a usar o termo e-Gov para estes instrumentos administrativos e mecanismos de acesso a informação ao cidadão, e o conceito de Smart Cities não o substitui, mas sim expande, na medida em que também dá conta de como a digitalização promoveu uma capacidade de monitoramento dos espaços físico e social (Przeybilovicz et al, 2018). Esta dimensão da digitalização que altera a forma com que nos relacionamos não apenas com os dados da administração pública e serviços burocráticos, mas também nos leva à uma nova relação com o ambiente já foi abordada no i-Ambiental e no i-Cidades, de modo a nos concentrarmos aqui no governo digital propriamente dito.

                Apesar de alguns sistemas de informação internos à burocracia remontarem aos anos 1980, apenas em 1995 foi criado o primeiro Sistema de Atendimento ao Cidadão, na Bahia, e em 1997 foi inaugurado o primeiro Poupa Tempo em São Paulo, e este tipo de sistema de informação para o atendimento direto da população espalhou-se para mais 10 estados ao longo de 1998; em dois anos o Governo Federal criou o Comitê Executivo de Governo Eletrônico para monitorar as ações em território nacional (Albuquerque Filho, 2021). De 2016 para cá muito vem sendo aprimorado no sistema nacional, sob coordenação do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (Roncaratti et al, 2019), em paralelo com a aceleração na geração e uso de informação característicos da Economia 4.0 (IEDI, 2019; Buainain, 2018; Buainain e Fraga Souza, 2019).

                Com a sistematização de um projeto nacional de governo digital ele expandiu dos serviços aos cidadãos e acesso à informações administrativas, acompanhado a capacidade de rastreamento, monitoramento, organização, processamento e IA da virtualização da economia, tal que serviços públicos passaram a proporcionar controle e otimização do próprio espaço físico, na chamadas Cidades inteligentes. A “Frente Nacional de Prefeitos” abrigou a Rede de Cidades Inteligentes e Humanas junto com o MCTIC (Przeybilovicz et al, 2018), e mais tarde foi criada a Câmara Cidades 4.0, que deu origem à Carta Brasileira para Cidades Inteligentes (MDR, 2020). Ou seja, ultrapassou-se o momento de expansão da fronteira tecnológica e atingiu-se uma reflexão sobre as consequências e possibilidades viáveis através das tecnologias em TI, mas sua expansão esbarra em problemas de infraestrutura ainda muito presentes, sobretudo em municípios de perfil socioeconômico mais frágil e mais fraco aprimoramento institucional (Przeybilovicz et al, 2018).

                Em estudo publicado há 3 anos Przeybilovicz, Cunha e Meirelles (2018) agruparam classes de municípios relacionando a forma com que usam as TC’s na gestão pública com perfis socioeconômicos, chegando a 4 clusters: i) sem tecnologia, ii) atento ao cidadão, iii) atento à tecnologia e iv) provido de TIC’s. Como o nome diz, o primeiro trata de municípios sem a infraestrutura tecnológica e IDH baixo. Os segundo e terceiro tem perfis socioeconômicos parecidos, sendo que os atentos ao cidadão concentram o uso tecnológico na prestação de serviços, e os atentos à tecnologia priorizam transparência da gestão pública; ambos se concentram no SUDESTE, e o problema aqui não é infraestrutura, mas o interesse. Por fim, os providos de TIC’s não apenas possuem tecnologia como a utilizam de forma plena, tanto nos serviços quanto transparência, e têm um IDH sensivelmente mais alto, concentrando-se no SUL e SUDESTE.

                Apesar de extrapolar o escopo deste esboço, compreender o contexto das TIC’s na gestão pública municipal para elaborar políticas tanto adequadas ao que é possível quanto capazes de suprir as carências exige mais atenção a este estudo, que possui integrantes que estiveram ativamente na elaboração da Carta Brasileira para Cidades Inteligentes (MDR, 2020). Apresentada estes perfis de heterogeneidade, a próxima sessão destaca as principais características deste processo de digitalização na medida em que ele ocorre de forma plena, mesmo dentro das diferenças socioeconômicas (afinal, um smartphone popular hoje é capaz de operar a funcionalidades básicas necessárias para viver no mundo das Smart Cities).

 

iii. Processos e impactos

                Pode-se dizer que um dos fatores que alimentaram a expansão das atividades públicas em espaços virtuais a partir da segunda metade da década de 2010 foi o impacto de uma regulação clara dos serviços digitais através do Marco Civil da Internet (), e hoje vemos o impacto sobre o acesso e fluxo de informação provocado pela Lei Geral de Proteção de Dados (). Como sustenta Márcio Wohlers, do Instituto de Economia da Unicamp, a partir do momento em que se tem acesso à rede põem-se como problema a qualidade do conteúdo ao qual as pessoas podem ter acesso e o próprio problema da assimetria de informação (Wohlers, 2014). Estas duas questões situam-se no que o autor chama problema da neutralidade de redes, e encaixa-se perfeitamente tanto no problema do acesso aos serviços quanto ao acesso a informação, temas chave quando o assunto é Governo Digital.

                Esta agenda de pesquisa deriva de uma discussão em torno do processo de convergência tecnológica nas TIC’s, trabalhada pelo mesmo autor acerca da mídia digital ainda na primeira década deste século (Wohlers, 2009), mas que também cabe perfeitamente quando se trata de Cidades Inteligentes, pois estamos falando da convergência de várias tecnologias para uma unidade no rastreamento, monitoramento, armazenamento, processamento e IA na gestão do espaço das cidades, em todas as suas dimensões, com informações acessíveis e não acessíveis à toda a população; inacessíveis por bloqueio ou por limitações técnicas do sistema ou das pessoas para compreender a heterogeneidade dos dados. Nesta discussão sobre neutralidade de redes e convergência tecnológica existem trabalhos que apontam para a relação entre acesso às TIC’s e desenvolvimento (Wohlers, 2014; Pinheiro, 2012), cujos detalhes podem servir para incrementar o debate a serem aprofundados futuramente.

                O fato é que para se atingir a neutralidade de redes, que consiste no acesso democrático à informações e serviços digitais, o problema vai muito além de determinantes tecnológicos. É preciso um arranjo institucional de regulação que determine o que pode ser compartilhado e o que fere a privacidade, que precisa ter o protagonismo do governo central (Przeybilovicz, 2018). Trata-se de um aspecto fundamental para dar conta da diversidade socioeconômica, da heterogeneidade das demandas (muitas vezes conflitivas), inclusive para que seja possível um padrão de qualidade e acesso capaz de garantir o básico e simultaneamente adaptar-se às particularidades locais. Este conflito entre padrão de implementação e monitoramento de políticas públicas contra particularidade locais é a tônica do debate sobre o Ciclo de Políticas Públicas há muito tempo, e cabe perfeitamente aqui (Olivieri et al, 2021).

                O impacto da democratização das redes de serviços e informação digitais não se restringe à ampliação das possibilidades tecnológicas, tal que o fluxo, a intensidade e o modo com que ter acesso rearranja as relações sociais são de fundamental compreensão para o delineamento de como este processo de democratização se torna fato: o impacto na esfera pública provêm de um fenômeno social. É crucial compreender que estas políticas públicas, como todas as outras, apenas se tornam realidade com a participação de stakeholders na elaboração, implementação e na avaliação dos resultados, até porque como tecnologias e demandas se tornam mais urgentes e voláteis,  quem não tiver aparato institucional e metodológico para abarcar este novo tipo de participação não acompanha as inovações, que não param (Cavalcante et al, 2019; Olivieri et al, 2021).

                Revisões na abordagem dos Ciclos de Políticas Públicas já apontadas desde os anos 1970 se tornaram irrefutáveis. Alguns assumem uma postura mais crítica à esta tradicional metodologia de implementação (Olivieri et al, 2021), outros optam por inovações incrementais em torno dela (Kingdon, 1995; Draibe, 2001; Cavalcante et al, 2019). Dentro do ciclo, podemos dizer que o protagonismo da participação está, sobretudo, na definição da agenda e escolha entre as opções dadas.

                Um volume organizado por Pedro Cavalcante (2019), do IPEA, traz uma série de experimentos para estruturação da participação de satakeholders dentro do Ciclo, que recorrem primordialmente ao design thinking, pois trata-se de uma metodologia para prototipagem rápida (pesquisa, definição, ideação e prototipagem), que evita que discussões ganhem uma dimensão sem fim e de um modo minimamente formalizado. Um dos artigos, inclusive, trata de ferramentas de governo digital centralizadas pelo governo federal e operacionalizadas nos municípios (Roncaratti et al, 2019). Tal qual o já citado trabalho de Albuquerque Filho (2021), ele destaca uma transformação no papel do próprio funcionalismo público, antes responsável pela prestação de serviço e agora imbuído da missão de facilitar a interface entre atores sociais e as novas tecnologias de prestação de serviço e acesso à informação.

                É possível sintetizar a breve discussão em 5 pontos fundamentais que uma política de governo digital precisa abarcar. Como será sistematizado na sessão “v”, há uma correspondência total com os princípios de governança pública usados neste estudo. Seguem os tópicos:

·         Regulação específica e adaptação institucional

·         Acesso à informação

·         Novos padrões de fiscalização

·         Participação na implementação de políticas

·         Acesso aos serviços com interface via funcionalismo

·         Indução do fortalecimento de startups

 

Tais aspectos podem ser facilmente correlacionáveis à atributos socioeconômicos dos clusters mencionados, proporcionando um leque enorme de possibilidades para investigações futuras.

 

iv. O conceito do i-GovTI no IEG-M

                O IEG-M surgiu das transformações tecnológicas que emergiram na gestão pública, tanto em relação ao uso da informação pelos agentes públicos, para orientação da accountability horizontal exercida pelo TCE’s, como ancorado no princípio de transparência dos dados públicos. Esta origem já se mostra na primeira definição do i-GovTI feito então apenas pelo TCE SP, apresentado como “métrica que mensure o conhecimento e o uso dos recursos de Tecnologia da Informação em favor da sociedade.” (TCE SP, 2014; p.10), medindo “ o conhecimento e o uso dos recursos de Tecnologia da Informação em favor da sociedade”, abordando “informações sobre políticas de uso de informática, segurança da informação, capacitação do quadro de pessoal e transparência” (TCE SP, 2015; p.9). Esta definição repetiu-se no volume da primeira iniciativa de levantamento nacional (IRB, 2016), até o último manual paulista (TCE SP, 2020).

                Apesar de não aparecer textualmente, é possível diferenciar questões que abarcam uso administrativo e de serviços para a população, algo que já ocorria há muito tempo no Estado de São Paulo e em boa parte do país. Deste modo, o indicador é totalmente concernente com os 5 tributos sistematizados ao final da sessão anterior, com exceção da capacidade de indução e estímulo à startups; apesar disso, é possível encontrar questões relacionadas a isso no questionário disponibilizado pela Rede Indicon. Ainda não é possível encontrar elementos de avaliação em torno das características das Smart Cities (Cidades Inteligentes), algo muito recente, cujas definições agora ganham corpo numa tendência de padronização de um framework de análise, e que envolveria todas as demais temáticas tratadas nos demais indicadores do índice.

 

v. O i-GovTI na governança Pública

                Diferente do que tem sido padrão nos esboços sobre os demais indicadores do IEG-M, a apresentação dos critérios de Governança Pública do Banco Mundial usados aqui será seguida por uma tabela comparativa entre este framework e os tópicos principais apontados ao final da sessão “iii”. Seguem os critérios do Banco Mundial (Kaufmann et al, 2010; Cruz e Marques, 2013):

 

1.       força da lei: conformidade com regras e controle da sociedade sobre este processo

2.       voz e prestação de contas: sociedade avalia resultados, tributação e investimentos

3.       controle da corrupção: capacidade institucional de julgar compromisso dos agentes

4.       estabilidade política: mecanismos de resiliência e adaptação

5.       efetividade governamental: capacidade de implementar políticas de realizar resultados

6.       regulação normativa econômica: modo com que se relaciona com parceiros privados

 

É possível fazer o seguinte comparativo entre os tópicos da sessão “iii” e estes princípios:

 

Governança Pública

Pontos fundamentais do Governo Digital

Força da Lei

Regulação específica e adaptação institucional

Voz e Prestação de Contas

Acesso à informação

Controle da corrupção

Novos padrões de fiscalização

Estabilidade política

Participação na implementação de políticas

Efetividade governamental

Acesso aos serviços com interface via funcionalismo

Regulação econômica

Indução do fortalecimento de startups

 

                Esta correspondência é fundamental, pois encaixa os pontos levantados na descrição dos paradigmas e trabalhos a partir dos quais esta temática está sendo pensada aqui. Segue agora como as questões do i-GovTI podem ser classificadas nos princípios do Banco Mundial.

 

Força da lei

                As duas primeiras questões (Q1 e Q2) tratam, respectivamente, de um plano municipal de TI e regulação do uso das tecnologias pelos funcionários; se a primeira questiona sobre uma visão ampla dos impactos e possibilidades, a segunda cobra regulamentação do uso de informação por parte da burocracia pública. A regulação local do acesso à informação, especificamente, é questionada na Q18. Neste aspecto, está focado mais no arranjo institucional local do que em paradigmas nacionais, como o Marco Civil da Internet e a LGPD.

 

Voz e prestação de contas

                Em relação à transparência o i-GovTI é bastante detalhado, até porque é o serviço que alavancou o interesse pela TI’s, tal que em “efetividade governamental” serão tratados apenas os protocolares da prefeitura. Indaga-se se a prefeitura disponibiliza por meio digital informações atualizadas sobre a administração (Q6 e Q23). Especifica tanto sobre contratos, como dados licitatórios (Q8) e repasses para terceiro setor (Q24) como sobre dados financeiros correntes (Q9, 11, 12 e 22), além de gastos com funcionários (Q27). Pode-se dizer que é bastante completo em relação ao acesso à informação para o cidadão.

 

Controle da corrupção

                Considerou-se que no quesito anterior trata-se das informações financeiras e administrativas gerais, contando no controle da corrupção dados sobre licitações e prestação e contas para órgãos de controle. Depois de questionar acerca da tributação da iniciativa privada na Q13, sobre do critério sobre arrecadação do IQSSN (combate à sonegação), há três questões sobre detalhes dos processos licitatórios (Q15, Q19 e Q21), sobretudo tratando da transparência quanto à comissão e critérios de seleção. Finalizando as questões referentes a este quesito, tem-se a Q26, sobre se a prestação de contas com a União está em dia.

 

Estabilidade política

                Aqui o foco é a respeito da equipe da prefeitura, questionando se há equipe específica para trabalhar TIC’s (Q3) e se há atribuição específica de cargos para esta área (Q4), e na Q5 questiona-se de programas de capacitação em governo digital para os funcionários em geral. Já existem muitos municípios com conselhos municipais de inovação, e valeria perguntar a respeito tanto para avaliar o que existe quanto estimular os que não possuem a formarem.

 

Efetividade governamental

                Como a prestação de informações para o cidadão já foi tratado nas questões concernentes à “voz e prestação e contas”, aqui constam alternativas digitais em serviços tradicionais. Aqui foco está em licitações, sobre as tecnologias usadas (Q16, Q17 e Q20). Poderiam perguntar sobre fornecimento de documentos, como alvarás e agendamentos, perguntados dos indicadores setoriais do IEG-M (educação e saúde) e que caberia constar algo aqui também.

 

Regulação econômica

                Neste quesito abordou-se questões relativas aos critérios de contratação e serviços de TI, tanto se membros da equipe deste setor na administração participam de comissões de licitação da área (Q10) como sobre a métrica de avaliação das propostas (Q14). Mesmo que de modo inicial, já colocam-se critérios de contratualização na área, que poderiam também ser mais diretos quanto à capacidade do poder público em induzir o desenvolvimento de iniciativas inovadoras locais. Mas é importante que já haja um delineamento para contratações de parceiros na área.

 

vi. Conclusões

                Um arranjo institucional qualificado na área de TIC’s consiste em um norte para as principais transformações correntes na gestão pública, o que pode ser visto como causa e consequência da capacidade de planejamento e desenvolvimento em todas as demais áreas. Foi importante este indicador ter ficado para o final das avaliações das 7 dimensões do IEG-M, pois leva à revisão de todos os aspectos deste trabalho exploratório que está sendo compartilhado publicamente, desde a abordagem usada até os desafios e possibilidades em todas as áreas.

                No próximo esboço serão tratadas possibilidades de uso do IEG-M em conjunto com outras ferramentas de avaliação do desempenho municipal, relativas ao Desenvolvimento Sustentável. Em especial, serão dadas algumas linhas a serem desenvolvidas do seu uso como indicador de ESG (Environmental, Social and Governance), paradigma cuja importância vem crescendo no setor privado e que oferece reflexões práticas quanto à qualidade da gestão pública. Além deste, haverá um texto final com reflexões mais livres contextualizando um ponto de partida para uma investigação mais criteriosa e sistemática, uma agenda de pesquisa de longo prazo.

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do NEA+/Unicamp e CEAPG/FGV e-mail: marcosrehder@gmail.com

 

Link com os esboços já publicados desta série sobre “Auditoria de resultados e governança pública”:

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2021/01/o-iegm-e-transformacao-sustentavel-nos.html

 

Referências

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