Auditoria de resultados e governança pública VI: i-Educação

 

Fonte: https://todospelaeducacao.org.br/noticias/como-priorizar-a-educacao/ 

Auditoria de resultados e governança pública VI: i-Educação

Marcos Rehder Batista

 

Introdução: importância e dificuldades

                Provavelmente, a pauta da educação é a que gera mais polêmica ao se esmiuçar diagnósticos, tanto sobre os objetivos quanto sobre os resultados das políticas públicas. Isto porque muito do que se pretende ou alcança é intangível, ou apresenta uma dispersão em relação ao padrão maior que em outras áreas, dadas as heterogeneidades individuais quanto ao aprendizado e às diferentes habilidades. Considerando enorme leque de abordagens pedagógicas, que dão margem para infindáveis discussões, serão feitos comentários sobre políticas educacionais apenas no tocante aos mecanismos de direcionamento de recursos dentro da estrutura federativa e seus resultados demográficos (matriculados e anos de estudo); se essa limitação de escopo empobrece o diagnóstico, permite uma visão geral capaz do esforço de distanciamento em relação às convicções e visões de mundo particulares.

                 Até então, os esboços desta série apenas trataram de abordagens e planejamentos, tanto para contextualizar o programa de trabalho empreendido aqui quanto discutindo questões relativas ao planejamento da gestão municipal, requisito para a elaboração e implementação de qualquer conjunto de políticas públicas. A partir de agora serão tratadas as áreas de políticas públicas em si, as soluções específicas para os problemas concretos da população, as demandas dos gastos que uma prefeitura faz, objetivos finais dos recursos que ela recebe, enfim, os objetos dos trabalhos de auditoria dos tribunais de contas tanto em suas avaliações de conformidade com a lei quanto no caso investigado aqui, as auditorias de resultado ou operacionais, cujos critérios estão sintetizados no Índice de Efetividade da Gestão Municipal.

                Pode-se dizer que, por concepção, a educação é a área de política pública capacitadora dos potenciais das pessoas por excelência. Independente do sentido de liberdade para onde ela aponta, sempre busca habilitar a algo do que ainda nãos e era capaz. É a pedra de toque na busca do que Amartya Sen (Sen, 2000; Abrucio, 2018) chama de “liberdade substantiva” em sua abordagem das capacitações, capaz tanto de viabilizar a liberdade material quanto vislumbrar liberdades emancipatórias como direitos civis ou modelos de desenvolvimento mais consistentes que a impossibilidade de definição de objetivos claros da “mão invisível (que muitas vezes se mostra em forma de “mão grande”, “mão santa”, “mão boba”, ou até uma bela bofetada). A educação, tanto em sua trajetória “stricto sensu” como qualificação ou extensão, é o que permite a assimilação de inovações capazes de evoluir de empreendimentos simples e populares à negócios sustentáveis e sustentados, ajudando a compreender a importância das iniciativas de autoaprendizado do empreendedorismo coletivo (Sachs, 2004).

                Entendendo a dinâmica pedagógica como um processo histórico, assim como as consequência de suas políticas, pode ser interessante algumas palavras sobre a i) organização federativa de nossas políticas públicas, caminho entre o Governo Federal e os municípios, especificamente na área de educação, depois um ii) breve histórico de nossas políticas educacionais até o iii) contexto atual nos governos Lula-Dilma-Temer, para finalmente tratar de iv) como o IEG-M concebe o i-Educação e v) os critérios de avaliação do i-Educação dentro dos princípios de governança pública do banco mundial. Por fim, algumas palavras sobre esta questão na atual gestão e ideias sobre agendas futuras.

 

i) Organização federativa de nossas políticas públicas

                As políticas públicas essenciais foram estabelecidas no Brasil pós-1988 em uma estrutura federativa essencialmente focada na implementação dos programas sendo coordenada pelos municípios, com uma pesada carga dos recursos federais sendo repassados diretamente para as prefeituras. Este foco das políticas públicas nas realidades e nas dinâmicas locais foi largamente estimulada por agências internacionais, como Nações Unidas, Banco Interamericano de Desenvolvimento e Banco Mundial, e recebeu aparato metodológico sólido também de fora do país (Farah et al, 2005), consolidando tanto as potencialidades quanto as possíveis fragilidades deste desenho institucional.

                É bem verdade que muitas das políticas públicas já estavam em grande medida nas mãos das localidades desde os anos 1970, sobretudo no caso da educação, com responsabilidades e repasses diretos para serem geridos onde mora a população no que tange ao que chamamos hoje de ensino fundamental, mesmo que até meados dos anos 1990 tenha acontecido de modo esparso (Negri, 2014). Porém, a municipalização foi consolidada principalmente por dois aspectos que definitivamente acentuaram esta característica: a definição dos “municípios” como parte da federação, como estados e união, e por consequência disso a implementação de políticas diretas para as cidades que duram a décadas e assim puderam ser avaliadas e amadurecidas (como FUNDEFF/FUNDEB).

                Para muitos, a predominância de repasses obrigatórios, dando considerável independência aos poderes locais na execução dos programas, dificulta o controle da União sobre as políticas, inviabilizando um projeto nacional na educação. Esta parece ter sido uma realidade quando o Governo Federal se encontrou desprestigiado, ficando a boa governança dos processos na dependência de uma articulação política competente em termos gerais (Abrucio e Segatto, 2017). Em todo caso, a União assumiu um papel mais coordenador e avaliador (não apenas no ensino), com algumas tentativas de intervenção direta, principalmente em aspectos transversais. Mas as tensões entre diretrizes gerais e implementação local continuaram.

 

ii) Breve histórico de nossas políticas educacionais

                Desde a independência a União relega o que chamamos hoje de ensino básico à marginalidade, priorizando o ensino superior, tal que a formação inicial do cidadão seria incumbência dos estados e municípios ou mesmo da iniciativa privada, caracterizando uma conjuntura educacional, no mínimo, dual: qualidade para as classes mais abastadas, operacionalidade ou mesmo precariedade para as menos. Houveram sim prelúdios de universalização, como na lei Lei 5692/1971, que canalizou recursos e o fim do exame de admissão, mas os resultados ficaram abaixo do esperado no 2º Grau (Abrucio, 2018). Todavia, 4 mudanças substanciais ocorreram na Constituição de 1988: obrigatoriedade de matrícula de crianças e adolescentes no ensino fundamental, mecanismos de participação da comunidade na governança, paulatina implementação e instrumentos de avaliação e um arranjo federativo claro, com infantil e Fundamental I com municípios, Fundamental II e Médio com Estados e superior sob responsabilidade federal (idem).

                O FUNDEF foi sem dúvida um marco na capacidade da União em adquirir um tipo de protagonismo que simultaneamente consegue implementar um projeto nacional mas respeita as particularidades na hora da implementação. Conseguiu resultados agudos nas matrículas no ensino fundamental, e em seu período de vigência apresentou melhora sem igual se usarmos como parâmetros medidas internacionais como o PISA (Negri, 2014). Se num primeiro momento acudiu uma demanda urgente no ensino fundamental, exigiu uma extensão dos investimentos para o ensino médio (pois se mais gente se formou no fundamental, foi para o médio), pauta que junto com a necessidade de incentivo ao ensino infantil levou à reformulação do programa, com sua transformação em FUNDEB (Abrucio, 2018; Abrucio e Segatto, 2017). Os resultados deste segundo momento são menos claros e pouco podem ser avaliados segundo os mecanismos tradicionais de avaliação, focados principalmente no aprendizado da língua materna e matemática, pois trata de conhecimentos muito mais plurais quando trata de ensino médio, que exigem instrumentos mais sofisticados de diagnóstico. De qualquer forma, esta continuidade permitiu avaliações, reformulações e amadurecimento das políticas, que se concretizou no que ficou conhecido por “Compromisso Todos Pela Educação”, de 2007.

               

iii) Contexto atual nos governos Lula-Dilma-Temer

                Além da ampliação natural do FUNDEF, pode-se dizer que o PDE de 2007 implementou de forma mais objetiva o estímulo ao debate de novas pautas, como gênero e história da África, além das cotas raciais ou para oriundos do ensino público nas universidades, estas últimas medidas tornando algo normal novos setores terem em seu leque de perspectivas a continuidade no ensino; este efeito é fundamental, dado que muitas pesquisas mostram que quanto mais tempo na escola os pais tiveram, melhor costuma ser o aproveitamento dos filhos (Abrucio, 2018). Pode-se dizer que dado o primeiro passo nos Governos FHC, focados na língua portuguesa e em matemática, diversificou-se o leque de ensino e as estratégias de atração, mesmo que estas não tenham mantido a vertiginosa atração atingida entre 1994-2002 (Negri, 2014).

                Neste PDE vale destacar um programa específico chamado “Mais Educação”, que marcou este segundo momento pós-FUNDEF radicalizando algumas mudanças já desenhadas pela natureza do governo petista (Capuchinho e Crozatti, 2018). Na medida em que este programa se caracterizava por direcionar recursos direto para as escolas comprarem material de apoio e infraestrutura, quebrava a tendência de delegar à esferas subnacionais a implementação das políticas, criando uma linha direta com as instituições de ensino básico sem passar pelos estados e prefeituras. Pode-se dizer que há uma quebra institucional de centralização das políticas, não direcionado para o reforço do núcleo comum mas nos temas transversais abordados por este programa (esportes, saúde pública, cultura, economia, educação ambiental).

                Um detalhe importante é que na medida em que estava focado em áreas que não eram matemática e língua portuguesa, este programa não podia ser avaliado por instrumentos como o PISA, o que levou a diagnósticos negativos injustos que não avaliavam a pluralidade de conhecimentos empreendidos (Fundação Itaú Social, 2015). Talvez uma boa medida para uma avaliação abrangente seria um estudo baseado na evolução das notas no Enem, que cobra conteúdos mais vastos, além de redação, de modo que uma avaliação ampla apenas seria possível ao final do ensino básico. Infelizmente, apesar de ter atingido 58.600 escolas em 2014, com a crise de 2015 não foram lançados mais editais, e o programa passou por um esvaziamento durante o Governo Temer (Capuchinho e Crozatti, 2018). Pior que isso, uma quebra de diretrizes levou à uma instabilidade programática no atual governo, que teve 3 ministros da educação em menos de 2 anos, com cortes ainda maiores de recursos, problemas que serão retomados nas considerações finais.

 

iv) Como o IEG-M concebe o i-Educação

                Trazendo para o escopo da gestão municipal e considerando que a orientação e a avaliação da execução dos programas é atribuição da União e dos estados, o IEG-M pode, através do i-Educação, avaliar se a administração local foi efetiva em usar os recursos para atender às orientações das Secretarias Estaduais e, sobretudo, aos padrões propostos pelo Ministério da Educação (TCE SP, 2014; TCE SP, 2020). Também discorre sobre a capacidade da administração em promover o bem estas e a qualidade de vidas de todos os envolvidos na comunidade escolar, no que se refere a creches, pré-escola e Ensino Fundamental I. Inclui informações sobre avaliação escolar, Conselho e Plano Municipal de Educação, infraestrutura, merenda escolar, qualificação de professores, transporte escolar, quantitativo de vagas, material e uniforme escolares (TCE SP, 2015; IRB, 2016).

                Um estudo publicado em 2018 apontou que não há correlação estatística entre os resultados atingidos no i-Educação e em indicadores de avaliação da educação como Prova Brasil e IDEB (Bezerra Filho et al, 2018), reproduzindo comparações sugeridas pelo próprio Instituto Rui Barbosa (IRB, 2016), e que mostra prudente ser contextualizado. O trabalho de 2018 compara os dados do i-Educação com os demais indicadores no ano de 2015 através de análise de regressão linear, o que 1) não imputaria necessariamente uma relação de causalidade, além de 2) desconsiderar que o IEG-M fala de planejamento de oferta das condições para o processo educacional, o que seria verificável apenas ao final do ciclo, dado que os dados de 2015 da Prova Brasil trariam os resultados do que foi implementado anos atrás.

Em todo caso, este estudo diz que o i-Educação foca nos gastos com infraestrutura, o que foi indicado em 2014/2015 mas já não consta no de 2020, além de colocar com bastante clareza que, por exemplo, qualificação de professores e conformação do Conselho Municipal de Educação são também critérios. No sentido de expor os critérios de avaliação deste indicador a próxima sessão trará as questões que o compõe, dentro dos parâmetros de governança pública indicados pelo Banco Mundial, que orientam sempre este olhar sobre a planilha de questões do IEG-M.

 

v) Os critérios de avaliação do i-Educação

                Seguindo os critérios governança pública já usados para descrever os diferentes indicadores do IEG-M, vale recordar as 6 dimensões apontadas pelo Banco Mundial (Kaufmann et al, 2010; Cruz e Marques, 2013):

1.       força da lei: conformidade com regras e controle da sociedade sobre este processo

2.       voz e prestação de contas: sociedade avalia resultados, tributação e investimentos

3.       controle da corrupção: capacidade institucional de julgar compromisso dos agentes

4.       estabilidade política: mecanismos de resiliência e adaptação

5.       efetividade governamental: capacidade de implementar políticas de realizar resultados

6.       regulação normativa econômica: modo com que se relaciona com parceiros privados

 

A seguir trago algumas palavras sobre como e quais questões do i-Educação tratam cada um destes 6 itens, mencionando os temas em suas respectivas questões.

 

Força da lei

                Neste primeiro critério de governança pública foram colocadas as questões relacionadas à conformidade com a lei propriamente dita. Trata aqui sobre o PME (Questão 8), sem entrar em maiores detalhes, conformidade com leis sanitárias (Questão 18), de segurança (Questão 60) e qualificação formal dos professores (Questão 19). Como é de esperar de uma avaliação de um tribunal de contas, o principal foco fica a respeito do uso de repasses para os municípios vindos das esferas federal e estadual, sobretudo no que se refere ao FUNDEB (Questões 45 e 46). Ou seja, não se avalia adequação do PME às orientações pedagógicas federal e estadual, e isso em muito explica o descompasso entre os resultados atingidos em outros instrumentos de avaliação e o IEG-M. Em todo caso, não faria sentido mais um instrumento de avaliação sobre temas que contam com vários outros meios de avaliação; o foco aqui são elementos materiais e protocolares, licitáveis e auditáveis.

 

Voz e prestação de contas

                Quanto à voz e prestação de contas trata-se de como o poder público dá informações sobre procedimentos cotidianos e seus gastos, de modo a qualquer cidadão ou organização não governamental ter respeitado seu direito ao acesso aos serviços e ao controle sobre como são usados os recursos públicos. A “Questão 10” trata da acessibilidade às escolas e suas dependências e existência de área de recreação (quadra), permitindo o uso do equipamento como espaço de socialização da comunidade. Já a “Questão 11” trata da transparência dos gastos com manutenção, e as 14 e 17 tratam da divulgação do que é dado na merenda, algo fundamental para averiguar a coincidência entre o que é comprado e o que é servido. Esta mesma função de levantar mercadorias que são compradas e entregues à população estão nas questões 37 (sobre material didático) e 38 (sobre uniformes), e a fiscalização de possíveis irregularidades é questionada na “Questão 30”, sobre a capacidade fiscalizadora do Conselho Municipal de Educação. Assim como no caso de conformidade com a lei, em Voz e participação não se orienta a fiscalização dos conteúdos dados, garantindo a liberdade para a escola e, em última instância, ao professor, que são de fato objeto de avaliação, mas por parte dos órgãos competentes da área de educação

 

Controle da corrupção

                Considerando que no i-Planejamento e no i-Fiscal já existe uma avaliação de instrumentos de controle de corrupção, e que esta parte é responsabilidade destes setores na maioria dos municípios, pouca coisa é tratada a respeito dentro da gestão da educação. Aqui, tem-se as questões 63 (especificamente sobre o conselho de controle do FUNDEB, colocada aqui porque trata-se de um instrumento específico de controle da corrupção sobre o fundo) e 64 (o mesmo sobre o Conselho de Alimentação escolar).

 

Estabilidade política

                Aqui vem as questões relativas a estudos, diagnósticos e informações fundamentais para elaboração do planejamento, assim como sobre registo e frequências de reuniões do Conselho Municipal de Educação, órgão por definição capaz de assimilar a realidade educacional e definir soluções para problemas, tornando o sistema mais adaptável. Já na “Questão 2” fala-se sobre pesquisa/estudo sobre necessidade de vagas, o mesmo ocorrendo nas questões 3 e 4, e a “Questão 5” sobre aproveitamento, incentivando o uso de outros indicadores específicos sobre questões pedagógicas (caso do PISA). Também há uma questão sobre incentivo ao aprendizado (21), especificamente sobre o estímulo à leitura. Na “Questão15” pergunta-se se há um planejamento sobre as rotas do transporte escolar, e na 10 se há registros do Conselho de Alimentação Escolar sobre a aceitação do cardápio por parte dos alunos. Observa-se até aqui que são questões sobre a adequação entre o que é oferecido e as demandas particulares, foco do processo de adaptação e evolução da gestão do sistema. Por último, na “Questão 43”, pergunta-se sobre as reuniões do conselho ocorridas no último ano de exercício.

 

Efetividade governamental

                Neste quesito vem as questões diretamente relacionadas à efetividade nas atribuições da prefeitura, como controle da evasão (Questão 1, com vários subitens, dado que muitos repasses são proporcionais ao número de matrículas). As questões 6 e 7, apesar de tratar de indicadores, foram colocadas neste item porque tratam de diagnósticos de qualidade, questões materiais e logísticas, e não ao resultado final, o aprendizado; logo, mais ligados à infraestrutura e à demografia do que questões pedagógicas. Também à perguntas sobre infraestrutura para uso de informática (9) e biblioteca (36), além de informações sobre tamanho das salas (62) e turmas por série (61). Enfim, são atribuições sobre infraestrutura, maior foco de cobrança sobre a prefeitura, dado que questões didáticas sobrecaem mais sobre direção das escolas e professores, e estão mais relacionadas ao tópico anterior. Questões menos auditáveis, por isso não estão em Voz e participação  e Controle da corrupção.


Regulação normativa econômica

                Em relação ao papel dos gastos com educação na indução do desenvolvimento, foco da regulação, como incentivo para comprar de micro e pequenas empresas, identificação dos setores onde mais se concentram os gastos (gráficas ou material de limpeza, por exemplo), muito pouco é tratado pelo i-Educação: por um lado, algo que poderia acontecer dada a cota de gastos no setor, por outro denota uma preocupação com o não aparelhamento econômico de um serviço essencial, o que também é digno de aplauso. Vale nota que duas questões são sobre uso dos recursos na valorização dos professores em salários e cargos (40 e 45), além da “Questão 46” perguntar sobre, no total, o percentual do total de receitas em atividades de ensino.

 

Considerações finais: atualidade e uma agenda futura

                Apesar de não considerar a comparação entre o i-Educação e indicadores de desempenho escolar válidos para avaliar a gestão educacional de um município, tenho que admitir a importância deste paralelo em identificar discrepâncias entre condições de infraestrutura e investimento e resultados finais; existem outras carências que não apenas investimento, o que não descarta a importância destes. No tocante à questões licitáveis e auditáveis o IEG-M cobre o fundamental, e dá elementos para iniciar uma associação entre estes e resultados. Para entender o IEG-M é preciso precisar a que ele se propõe e a que ele não se propõe. Quanto a outros elementos fundamentais não cobertos pelo índice, como critérios do PME e orientações pedagógicas gerais, a tendência é que nos últimos 5, 6 anos as discrepâncias se tornem maiores, dada a instabilidade com que a matéria é tratada em nível nacional.

                A construção de uma agenda para retomar o aprimoramento da educação pública no Brasil ainda deficitária, apesar dos avanços nos últimos 30 anos, começa por superar a falta de urgência dada ao tema pela própria população, como indica o professor Fernando Abrucio, da EAESP/FGV. Segundo ele, 5 pilares seriam fundamentais para um novo ciclo de avanços no ensino (Abrucio, 2019): qualificação docente, maiores atrativos para a profissão docente, qualidade na gestão do sistema e das instituições de ensino, sistemas educacionais focados no desempenho dos alunos e, por fim, reformas educacionais orientadas pela participação dos atores da comunidade escolar. É uma agenda abrangente e de fácil assimilação, algo extremamente importante dada a heterogeneidade dos recursos humanos envolvidos, e todos estes estão cobertos pelo i-Educação, menos exatamente o que trata do sistema de ensino (pois o IEG-M não se envolve na questão pedagógica), sinal de que o as orientações dos tribunais de contas podem estar no caminho certo.

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do NEA+/Unicamp e CEAPG/FGV e-mail: marcosrehder@gmail.com

 

Link com os esboços já publicados desta série sobre “Auditoria de resultados e governança pública”:

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2021/01/o-iegm-e-transformacao-sustentavel-nos.html

 

Referências

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ABRUCIO, F (2019). Separar o joio do trigo: o que importa na educação. GVEXECUTIVO • V 18 • N 2 • MAR/ABR 2019, pp.40-44

ABRUCIO, F; SEGATTO, C. (2017) A política de Educação e os governos subnacionais pós-Constituição Federal de 1988: diversidades e desafios. In: Por uma gestão pública democrática [recurso eletrônico] : 25 anos do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo / Mário Aquino Alves, Jacqueline Brigagão, Fernando Burgos. – São Paulo :

Programa Gestão Pública e Cidadania – PGPC

BEZERRA FILHO, J.E.; ALCURE NETO, A; AGUIAR, M.C (2018). Avaliação do Índice de Efetividade da Gestão Municipal utilizado pelos Tribunais de Contas (IEGM): uma análise da dimensão educação. Curitiba: EnAnpad

CAPUCHINHO, C; CROZATTI,J (2018). O Financiamento Dos Programas Federais Mais Educação e Novo Mais Educação Para Ampliação da Jornada Nas Escolas Públicas Brasileiras . Revista de Discentes de Ciência Política da UFSCAR | Vol.6 – n.3, pp.248-277

Cruz, N. F., & MARQUES, R. C. (2013). New development: The challenges of designing municipal governance indicators. Public Money & Management33(3).

FARAH, M.F.S; SILVA, P.L.B; SPINK, P; WILSON, R.H (2005). COMPARATIVE PUBLIC POLICY-A FRAMEWORK FOR COLLABORATIVE TEACHING AND RESEARCH AND DIFFUSING METHODOLOGIES OF ANALYSIS. Campinas: Caderno de Pesquisa 69/NEPP

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IBR (2016). Índice de Efetividade da Gestão Municipal – IEGM Brasil. Curitiba: Instituto Rui Barbosa.

Kaufmann, D., Kraay, A., & Mastruzzi, M. (2010). The worldwide governance indicators: Methodology and analytical issues.

NEGRI, B (2014). O Financiamento Público da Educação Básica no Brasil: 1988-2012. In: Educação Pública no Estado de São Paulo: avanços e desafios/ org: Barjas Negri, Haroldo Torres e Maria Helena de Castro. São Paulo: Secretaria de Educação do Estado de São Paulo pp.15-36

SACHS, I. (2004) Desenvolvimento : includente, sustentável, sustentado. - Rio de Janeiro: Garamond

SEN, A. (2000) Development as freedom. New York: Anchor Books

TCE SP (2014) Índice de Efetividade da Gestão Municipal: Manual 2014.

TCE SP (2015) Manual do Índice de efetividade da gestão municipal. SÃO PAULO: Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

TCE SP (2020) Manual do Índice de efetividade da gestão municipal. SÃO PAULO: Tribunal de Contas do Estado de São Paulo

 

 

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