Enfrentando o problema focando em soluções. Lições de Muzambinho
Muzambinho
não foge à tradição da produção de café e derivados de leite que tornou-se sinônimo
da fartura do Sul de Minas em sua divisa com São Paulo, mas que há décadas se
posiciona regionalmente como um polo educacional e com uma atividade industrial
significativa para seus 21 mil habitantes, contando, inclusive, com um campus
do Instituto Federal do Sul de Minas. Trata-se de uma cidade pequena rodeada
por montanhas muito focada em suas propriedades, que conta com um grande fluxo
de pessoas e atividades econômicas, e se articula entre as possibilidades que a
região oferece sempre preocupada em manter sua integridade. Como
pretende-se aqui deixar claro, pode-se dizer que sua classe empresarial
compreendeu o tamanho da crise e optou por orientar os agentes econômicos sobre
como repensar seus negócios de uma forma ampla, assumindo a hipótese de que
nada será como antes.
Iniciada
como centro de produção agrícola de pequenos produtores que se fixaram como
alternativa às instabilidades do ciclo do ouro, por volta do ano de 1760, desde
sua origem Muzambinho é marcada por iniciativas ao mesmo tempo inovadoras mas
priorizando algum tipo de estabilidade, um desenvolvimento programado que
começa de uma organização interna voltada para as soluções possíveis olhando
para um futuro sólido. Hoje cerca de 12% de sua economia gira em torno do
agronegócio, o que não impede a manutenção de suas tradições nas atividades
rurais. Com uma atividade manufatureira ganhando força a partir dos anos 1970,
segundo dados de 2017, 15% de seu PIB é industrial, um dos maiores percentuais
entre os municípios tratados nesta série de diagnósticos preliminares dos
municípios mais ligados à Poços de Caldas. Seu setor de comércio e serviços
ultrapassa 50% do PIB, e junto 22,5% representados pelo setor público mostra
hoje uma predominância de atividades urbanas em sua economia, o que explica o
profissionalismo da Associação Comercial e Empresarial de Muzambinho.
Dado o
fato de haver muito mais circulação do que o comum para uma cidade deste porte,
era de se esperar um problema sério durante a pandemia. Já entre os dias 17 e
20 de março havia uma orientação informal da associação comercial sobre os
cuidados, com alguns comerciantes inclusive reduzindo horário de funcionamento
por conta própria, antes de qualquer decreto municipal ou estadual. Por outro
lado, houve comerciante que entrou com mandado de segurança contra a prefeitura
no início de abril, quando os decretos estabelecendo fechamento das atividades
não essenciais já estavam em vigor. Mesmo com uma flexibilização antecipada já na
metade de abril, houve uma forte campanha de conscientização até julho, a
partir de quando passou-se a pensar sobre novos modelos para retomada das
atividades econômicas, pois a flexibilização não levou à uma retomada do
consumo. Pode-se dizer que a estratégia de combate à pandemia foi bem sucedida
na cidade, pois tiveram apenas dois óbitos e pouco mais de 60 casos até agora,
dados bem melhores que a maioria dos municípios deste porte e com a capacidade
de atração de Muzambinho.
Pode-se dizer que este difícil papel de fazer o meio campo entre as proibições exigidas pela pandemia e as necessidades dos agentes econômicos além de compreender por quais meios o fluxo no comércio poderia ser retomado foi o enorme desafio com o qual se deparou a Associação Comercial e Empresarial. A forma com que ela buscou promover uma transformação no comportamento das pessoas para evitar a transmissão da Covid 19 focou em levar os comerciantes a repensar a forma de exercer suas atividades, aderindo à campanha “Pede pelo Zap” e promovendo uma consistente série de “lives” sobre como reinventar os negócios dentro de novos padrões, quem contaram com consultores requisitados pela Federaminas e FIEMG e mesmo representantes do BDMG. A promoção “7º Feirão da Associação Comercial e comércio de Muzambinho”, este ano feita exclusivamente por meios digitais entre os dias 23 e 27 de julho, exemplificou muito bem que mesmo mantendo as orientações sanitárias para as atividades em lojas físicas a opção estratégica foi direcionar a dinâmica da economia local para os aplicativos na internet, mantendo o distanciamento. Foi defendido o direto do comerciante de abrir, mas mesmo assim estimulou-se formas de consumo que mantivessem o distanciamento. Além de responsável, tirou o foco do conflito, preservando a instituição, os associados e a sociedade onde funciona.
Diante do
problema focou-se no que iria dar mais resultado. A crise econômica já era comentada
pelos comerciantes em particular no início do ano, e a pandemia apenas agravou.
A estratégia de admitir as dificuldades de vender hoje e priorizar uma atitude
didádica sobre como gerir e organizar internamente os negócios ao invés de
direcionar as ações para busca de mercados que estão em dificuldade preparou os
empresários para um futuro. Esta postura permitirá à cidade se projetar de modo
equilibrado, e esta foi a forma da Associação Comercial cumprir seu papel de
também contribuir para o desenvolvimento local de modo mais amplo, afinal, uma
cidade fortalecida que sonhamos consolida mercados que queremos. Como diz a frase
usada pela ACE em comemoração no dia 12/10, "Pense como um adulto, viva
como um jovem, aconselhe como um ancião e nunca deixe de sonhar como uma criança!"
Introdução ao projeto publicada em
15/9/2020
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/09/projeto-rede-de-desenvolvimento-regiao_15.html
Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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