Articulação, objetividade e resultado: fazer funcionar! Lições de Machado
Mesmo como uma
tradicional cidade mineira Machado parece ter em sua marca a capacidade de
articulação objetiva dentro das potencialidades que a rodeiam, tanto em
questões políticas como econômicas. Isso não faz de suas belezas naturais menos
expressivas nem de sua produção de café e leite menos tradicional, mas existe
uma racionalidade sem exageros que lança este município para um foco em
resultados e bom senso que realmente salta aos olhos. Esta busca pela
eficiência consciente é muito notável em várias áreas de sua sociedade, mas
fica especialmente notável na postura dos principais agentes observados neste
breve estudo sobre as ações para a recuperação econômica entre as cidades mais
ligadas a Poços de Caldas.
Surgida
das rotas dos bandeirantes, por isso com uma história reconhecidamente muito
ligada ao Estado de São Paulo, apesar de estar mais distante da divisa entre os
estados o reconhecimento deste vínculo coloca Machado numa posição importante
na integração desta região interestadual. Também fez parte de vários municípios
antes de definitivamente se emancipar, em 1881; especificamente, Cabo Verde,
Jacuí, Caldas e Alfenas. Além disso, tem eu seu território o distrito de Douradinho,
mais antigo e que durante o reinado de D Pedro II foi um dos povoados mais
fortes da região. Apesar de fazer parte da Região Imediata de Alfenas, tem
vínculos fortíssimos com Poços de Caldas, como pode ser visto através dos dados
do Regic 2020. Toda esta trama dentro da qual as estruturas política e
econômica da cidade permitem um leque enorme de estratégias para se adaptar a
várias situações, como a pandemia.
Falando
propriamente de sua economia, é conhecida a importância do café e da pecuária
leiteira, além dos produtos derivados destas atividades; com isso, a
agropecuária representa 15 % de sua economia, algo razoável para um município
já com mais de 40 mil habitantes. Seu setor industrial impressiona, e dos
municípios aqui observados a importância dele só é maior em Poços de Caldas,
contando com um parque industrial produtor de 20 % do PIB local, e mais um
distrito industrial a ser inaugurado. O poder público consiste em 19 % da
economia, o que mostra pouca dependência econômica em relação à prefeitura.
Apesar dos 45% da importância do setor de comércio e serviços parecer pouco se
comparados aos municípios vizinhos de porte semelhante, tudo indica que isso se
deve à força dos demais setores privados já postos, e a capacidade destas
atividades tão prejudicadas pela crise do coronavírus pode ser comprovada ao
constatar-se a força da ACIAM/CDL, a Associação Comercial e Industrial de
Machado.
A
ACIAM mostrou sua versatilidade setorial em ações com vários mercados durante a
pandemia. Promoveu campanhas de aprendizagem para o uso de meios digitais de
comercialização, reforçou a campanha para o uso de seu cartão de adiantamento
salarial nas empresas, o que faz com que os funcionários foquem seu consumo em
empresas locais (o que envolveu inclusive produtores rurais) e manteve sempre
uma postura colaborativa com a prefeitura, mesmo não participando diretamente
do comitê municipal de monitoramento da pandemia. Representante de duas
associações nacionais voltadas para agentes econômicos (CDL e CACB), tem ações
conjuntas com SESI, FIEMG e SEBRAE, além de ter trazido orientações de meios universitários
de excelência, como a Unifenas. Tal capacidade de articulação proporcionou uma
resiliência que trouxe mais de 100 novos associados nos últimos meses, mesmo
assumindo uma atitude preventiva, o que pode se confirmar quando divulgou nota
antes de decretos municipais pedindo isolamento e tomada de medidas contra o
Covid 19 (20/3, especificamente).
Por
parte da prefeitura, como em outros municípios houve também um fechamento do
comércio do final de março ao final de abril, e depois em julho, porém com
diálogo e resistência a medidas mais drásticas, relutando na adesão ao Plano
Minas Consciente. Mesmo com uma boa interação com a entidade que representa as
demandas empresariais, foi das poucas cidades onde houve realmente autuações,
atitude acompanhada sempre de muita conscientização através de mensagens curtas
e precisas parar a população, deixando bem claro que “manter a distância agora
é sinal de união”. Como resultado, ocorreram apenas 6 óbitos e 168 casos, que
foram acontecendo de modo relativamente equilibrado ao longo do tempo, mesmo
com a inegável aceleração de agosto para cá. Uma consciente focada tanto nos
resultados na saúde como econômicos, estes últimos sabidamente ainda por vir.
Pode-se
dizer que a atuação desta associação comercial uniu objetividade, articulação e
discrição, focando-se em resultados práticos para o bom funcionamento do
conjunto, preocupando-se menos com a construção de uma imagem midiática. Ela já
estava articulada organizacional, geográfica e tecnologicamente para momentos
como estes, e pensa um programa de recuperação recorrendo a alternativas que já
tinha em “sua gaveta”. Não resume sua atuação na busca imediata da recuperação
do lucro mas num crescimento realmente robusto do mercado e dos setores
produtivos, tendo como uma de suas diretrizes além de representar as demandas
específicas de seus associados o desenvolvimento do município, o que retorna
como mola que impulsiona os negócios locais. Pode servir realmente como uma
orientação para os programas regionais de desenvolvimento e recuperação
econômica.
Introdução ao projeto publicada em
15/9/2020
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/09/projeto-rede-de-desenvolvimento-regiao_15.html
Marcos
Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto
de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder
do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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