Um recanto para crescer. Lições de Bandeira do Sul
Não apenas aos olhos de quem está
de passagem as montanhas do Sul de Minas Gerais dão vontade de parar, são
cantos únicos que para cada um acontece um pedaço que se torna uma escolha. Tem
sempre uma encosta de serra ou uma curva de riacho que encanta mais, cada um
tem o seu, e talvez por isso aparecem tantos pequenos povoados que acabam
virando pequenas cidades sempre especiais para alguns, e talvez este seja o
caso de Bandeira do Sul. Na década de 1940 ainda um pequeno povoado na região de
Poços de Caldas à beira do rio Marambaia, ganhou um impulso de um grupo de
investidores e teve na década de 1960 já se emancipava de Campestre. Além da
forte atividade agropecuária, ganhou impulso ali a agroindústria, cerâmica e
confecção de jeans, além do enorme potencial turístico que toda esta região
possui. Apesar de não registrar nenhuma morte por Covid 19, o município teve
alguns desafios, e o objetivo aqui é falar sobre algumas alternativas que se
abrem para lugares como este.
Com
aproximadamente 5.700 habitantes, menos de 5 % de sua economia está em atividades
rurais, número impressionante para uma cidade deste porte (dos municípios
estudados aqui, só Poços de Caldas e São João da Boa Vista dependem menos das
atividades agropecuárias). Sua atividade industrial representa 12,18% de seu
PIB, e conta com 2 fortes indústrias de laticínios, várias cerâmicas e
relacionadas à construção civil e 14 fábricas de jeans, sendo que estes setores
– junto ao café – são os propulsores para desenvolvimento futuro e conexão
deles com cadeias produtivas que trazem um ritmo de modernização acelerada para
a cidade. Comércio e serviços representa 41 % da economia, algo que deve ser
alterado com a chegada da pandemia.
Segundo
dados da prefeitura não tivemos nenhuma morte por Covid 19 em Bandeira do Sul, o
que possibilitou uma flexibilização já em meados de abril, prejudicando muito
pouco comércio e serviços na cidade. Muito pelo contrário, com as restrições
impostas nos centros vizinhos maiores da região, muitos que costumavam consumir
em outros lugares passaram a prestigiar
em maior intensidade o comércio local, inclusive com o fortalecimento dos
serviços de delivery, o que pode ter sido um impulso extra para a economia.
Isso pode promover uma mudança de comportamento do consumidor local se for bem
trabalhado, o que não é necessariamente ruim para as cidade vizinhas: se o
bandeira sulense tiver uma economia mais forte com mais dinheiro ficando por lá
em atividades básicas como compra de mantimentos, terão mais poder para
consumir coisas que apenas cidades maiores tem. Ao invés de fazer com que seus
cidadãos se conectem menos na região, os potencializa a aumentar sua integração
intermunicipal.
A
maior dificuldade será contornar a crise mundial no setor de vestuário. Com a
diminuição do varejo de roupas provocada pela pandemia, as indústrias de vestuário
da cidade tiveram que suspender suas atividades e dispensar funcionários devido
à diminuição da demanda e até dificuldade em encontrar matéria prima. Esta será
uma realidade que precisa ser contornada urgentemente, pois a tendência é que
em breve tudo que não foi consumido durante a quarentena seja procurado de modo
intenso, de modo que quem conseguir produzir muito em pouco tempo terá um
crescimento relâmpago gigantesco, deixando os concorrentes que não se
prepararam para este momento para trás. A possibilidade de exportação também
cresce com o dólar alto, de modo que a organização econômica precisa ser
cirúrgica.
Apesar
da crise têxtil e das enchentes que realmente golpearam o município em 2020,
existem sim várias possibilidades para um razoável salto de modernização, mas
de uma reinvenção saudável em vários aspectos. Não tratei aqui do turismo, que
é uma realidade para Bandeira do Sul se engajar: além de trazer renda, faz com
que os cidadãos aumentem sua vontade de cuidar dos espaços públicos. Muita
gente vai continuar passando por ali e achando lindo, com vontade de conhecer,
e muita surpresa vai sair da economia de lá se alguns cuidados forem tomados.
Introdução ao projeto publicada em
15/9/2020
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/09/projeto-rede-de-desenvolvimento-regiao_15.html
Marcos
Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto
de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder
do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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