Do ouro verde à busca de novas perspectivas. Lições de Cabo Verde (MG)
Cabo Verde é um dos povoamentos mais
antigos do Sul de Minas, fundada por bandeirantes paulistas que ali encontraram
ouro, e deu origem à maioria das capelas que deram origem à municípios como Caldas, Alfenas, Machado, Muzambinho, Botelhos, Alterosa,
Campestre, Divisa Nova e Monte Belo. Mergulhou na produção do café, e tornou-se
uma grande referência neste produto, tanto que o presidente da maior cooperativa
de produtores de café do Brasil é de lá, a Cooxupé, com mais de 15 mil
cooperados espalhados por cerca de 200 municípios de Minas Gerais e São Paulo. Um
recanto mineiro de montanhas capazes de encantar a qualquer um esperando por um
novo salto.
De fato, dentre os 13 municípios que estão sendo
analisados nesta pesquisa Cabo Verde é aonde a agropecuária tem maior importância
no PIB municipal, representando 28,77 %, e a cafeicultura emprega quase metade
da população local, além de atrair migrantes temporários do Nordeste e do Paraná
(há mais paranaenses que paulistas na cidade). Possui pouca atividade
industrial, como cerâmicas e torrefações, além de produção de energia, sendo
4,8 % da economia e muito ligada ao café. Os setores de comércio e serviços
representam 39,9 %, apontando a tendência da população local em consumir nas
cidades vizinhas, tendência que deveria ter sido revertida com o estímulo ao
isolamento provocado pela pandemia e pelos fechamentos das cidades.
Pode-se dizer que num primeiro momento o modo com que
a cidade lidou com a Covid 19 foi impressionante. Foi um dos primeiros municípios
a ter um decreto relacionado à pandemia, 16/3, reforçado no dia 21 do mesmo mês
com o fechamento das atividades não essenciais. A flexibilização começou no
final de abril, num organizado plano que classificava as atividade de “A” à “E”,
e abrindo espaços de lazer. Estimulou-se a contratação de trabalhadores locais
para a colheita do café, e vários vídeos de autoridades municipais pediam um
esforço de isolamento. Como resultado, o primeiro caso confirmado da doença
veio apenas em 18 de junho, e até agosto haviam registrado apenas 5 casos.
Pode-se dizer que o relaxamento natural com este controle velou à um aumento
progressivo a partir de agosto, e em setembro dobraram os casos, de 20 para 40.
De qualquer forma, não houve nenhuma morte até agora.
Esta segunda onda de coronavírus já é vista em vários
lugares, e ter sua economia primordialmente focada na produção de um artigo de
exportação como o café pode ser uma alavanca fundamental para Cabo Verde. Com
produtores integrados à estruturas organizacionais muito atualizadas através de
instituições como a Cooxupé, contando com acompanhamento intenso do SENAR (que
promoveu atividades relacionadas à Covid 19 no município, inclusive), existe
toda uma agroindústria que pode florescer a partir deste setor, promovendo
atividades diretas e indiretas de alto valor agregado. Considerando sua forte
conexão com municípios como Poços de Caldas e Guaxupé pode trazer uma nova
realidade econômica caso consiga se articular com os projetos de recuperação
econômica destes municípios, tanto no que se refere à comércio e serviços
locais como num futuro circuito turístico regional (turismo histórico, trata-se
de um dos berços do Sul de Minas).
Os bons resultados no combate à pandemia podem
credenciar Cabo Verde para uma nova transformação socioeconômica, do mesmo quilate
da que aconteceu quando abraçou a atividade cafeeira – sem abandonar coisas que
já são tradicionais. Depende da criação de instituições como associação comercial,
além do fortalecimento das já existentes ligadas às atividades rurais, e um
planejamento do poder público em nível regional (integra a rede interestadual
de serviços de saúde do Conderg, por exemplo). Estamos em um momento muito propício
à reinvenções, novas formas de fazer as mesmas coisas que gostamos e desejamos,
e este lugar lindo e regionalmente histórico tem tudo para ver em si preciosidades
que podem ser revigoradas e trazidas à tona para seu desenvolvimento.
Introdução ao projeto publicada em
15/9/2020
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/09/projeto-rede-de-desenvolvimento-regiao_15.html
Marcos
Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto
de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder
do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
Comentários
Postar um comentário