Proposta de desenvolvimento do interior nos “Laboratórios” da parceria SEBRAE/FGV


Proposta de desenvolvimento do interior nos “Laboratórios” da parceria SEBRAE/FGV

Marcos Rehder Batista

                Aproveitando que nesta segunda-feira (24/5) aconteceu na minha Região de São João da Boa Vista o “Laboratório de Formação de Agenda”, resolvi contextualizar esta iniciativa dentro da proposta desta parceria do SEBRAE e FGV  para políticas públicas de desenvolvimento, como se relaciona com os princípios de boas práticas de governança pública sugeridas pelo Banco Mundial e pelos Tribunais de Contas e por que estes “Laboratórios” que acontecem no estado todo são fundamentais para orientar a recuperação pós-pandemia. Diferente do outros textos publicados neste espaço, trata-se aqui de um breve relato sobre informações que colhi na internet me preparando para o evento e de impressões colhidas lá em conversas com prefeitos, secretários e representantes da Fundação Getúlio Vargas (articuladores regionais e professores), indicando o caminho em que serão aprofundadas e retomadas quando for elaborar o 11º e o 12º esboço da série que desenvolvo sobre o Índice de Efetividade da gestão Municipal (IEG-M), dos Tribunais de Contas.

                Já durante o período eleitoral de 2020 esta parceria entre SEBRAE e FGV vem propondo agendas de políticas municipais através a Unidade de Políticas Públicas e Relações Institucionais, como nas instruções para plano de governo “Guia para Candidatos Empreendedores: prefeitos e vereadores”, ou “Plano de 100 dias”, com alternativas de promoção do desenvolvimento local dentro das possibilidades do prefeito. Pode-se dizer que este “Laboratório de Formação da Agenda” consiste em uma etapa deste processo de diálogo com os poderes públicos municipais, sobretudo em relação a como dar preferência à pequenos e médios empreendedores nas compras públicas, exigindo normas facilitadoras ao invés de restritivas (desburocratização) promotoras da inclusão produtiva dos setores com menor fôlego. Levando em consideração que novos atores sob regras diferenciadas e necessidades especiais de amparo ao mesmo que trazem desafios de qualificação e coordenação também proporcionam um ambiente regional e negócios muito mais resiliente e capaz de absorver e gerar inovações.

                Importante salientar que esta alternativa para o poder público municipal induzir o desenvolvimento, a forma de contratação e comprar públicas, é apontada como mecanismo mais indicado tanto pelos princípios de governança pública do Banco Mundial como pelos critérios de avaliação do Índice de Efetividade da Gestão Municipal (ao final do questionário do i-Planejamento). Existem outras formas de promover desenvolvimento econômico, mas muitas vezes extrapolam as atribuições da gestão municipal ou não podem ser usadas em todos municípios, não possibilitando a elaboração de uma política pública de níveis federal ou mesmo estadual. O estabelecimento de regimes preferenciais universais que estimulem comprar de MPE’s e agricultura familiar é importante pois aprimora parâmetros de fiscalização, não confundindo liberdade com libertinagem econômica, mas de forma adequada aos pequenos.

Deste modo, as propostas gerais elaboradas por esta parceria e trabalhadas regionalmente neste primeiro semestre de 2021 podem (e devem) ser usadas como complemento às boas práticas de gestão apontadas pelos Tribunais de Contas, sendo um programa geral interessantíssimo para inspirar iniciativas locais para desenvolvimento à médio e longo prazo, não apenas na emergência da necessidade de recuperação pós-covid. Das startups de base tecnológica às cooperativas de produtos tradicionais, dificilmente encontramos propostas para lidar com as mudanças que já eram eminentes e que foram aceleradas pela pandemia que não priorizem incentivo às MPE’s, da Strategic Niche Management das incubadoras tecnológicas holandesas de René Kemp aos empreendimentos coletivos intensivos em trabalho de Ignacy Sachs.

Novos métodos, produtos e atores em novas cadeias de valor, dentro deste novo mercado mutante da Economia 4.0 exigem uma Governança 4.0 para um Estado 4.0, e o planejamento em rede vem como um pré-requisito. Redes de agentes econômicos, sociais, políticos da “porteira pra fora” da prefeitura, que da “porteira pra dentro” exigem versatilidade das redes intersetoriais de todas as áreas da administração. Pode-se dizer que este “Laboratório” potencialmente irá mostrar na prática, promover uma percepção viva das novas demandas, principalmente porque olha para o motor de todas as mudanças atuais, a transformação econômica. Não que ela condicione todas as outras como uma rua de mão única, mas é a manifestação mais objetiva de tudo que existe latente, tal como os preconceitos aparecem nas diferenças de renda entre as pessoas e as preferências subjetivas se mostram nos preços dos produtos, e as prioridades da gestão pública se mostram na distribuição dos gastos e na forma com que a prefeitura compra insumos.

A governança, enquanto regras e modos de garantir que seja saudável a forma com que os agentes (políticos e econômicos) disputam os recursos de uso comum (como um ambiente de negócios ou um orçamento público), precisa, no mínimo, ser aprimorada. Desburocratização não significa diminuição as regras, mas regras claras e que apontem caminhos, incluindo cada vez mais. Estes “Laboratórios”, estimulando consórcios intermunicipais através do Programa de Articulação Regional de Políticas Públicas, podem não apenas trazer novos projetos regionais, mas fundamentalmente indicar novas formas de gerir estes projetos. Considerando a capilaridade do SEBRAE e a possibilidade de atuação conjunta com as associações comerciais, tem-se uma oportunidade única de qualificação e formação de capital humano nos municípios pequenos, e por isso este projeto será frequentemente retomado aqui na reflexão sobre abordagens para diagnósticos de desenvolvimento local e como usar junto diferentes propostas, ao longo do trabalho sobre o IEG-M e também de forma independente, complementando e aprimorando informações.

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/IE-Unicamp e do SP in Natura Lab/FCA-Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


Comentários

  1. Prezado Professor Marcos, Boa Noite. Muito boas as suas ponderações e aliás, como sempre muito produtivas e enriquecedoras. Gostei muito deste trecho: "Desburocratização não significa diminuição as regras, mas regras claras e que apontem caminhos". Isto porque a questão da falta de transparência do Estado Brasileiro (e também latino-americano), tem sido apontada como uma lacuna crônica na história brasileira e do conjunto da América Latina (a respeito, o cientista político Paulo Sérgio Pinheiro tem ponderações que datam dos anos 1970 j[á citando este ponto). No mais, apenas faria um pequeno apenso de que também precisaríamos de uma Academia 4.0, basicamente porque o campo acadêmico parece-me muito refratário em absorver novos conceitos e programações. Para finalizar, parabéns pelo seu trabalho! M. Waldman

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