Ovinos e caprinos: a gigantesca versatilidade e sustentabilidade deste mercado

 

Ovinos e caprinos: a gigantesca versatilidade e sustentabilidade deste mercado

Marcos Rehder Batista

             Trazer este tema em pleno Domingo de Páscoa ajuda a trazer para todos as inúmeras passagens bíblicas e mesmo nas mitologias grega e romana que envolvem estes animais que resistem a tudo e oferecem de lã a leite. Eles apareciam tanto nestas histórias porque eram os que melhor resistiam ao semiárido mediterrâneo, assim como ao brasileiro, da América Central, Norte da Ásia e Sudeste da Europa, e quase tudo se aproveita dele para necessidades básicas, sendo o maior exemplo de sustentabilidade e versatilidade na pecuária. Por isso, precisa ter seu universo constantemente estudado e sua produção altamente incentivada nas mais variadas condições naturais do Brasil. A intenção aqui é trazer alguns dados e sugerir uma série de análises que pretendo fazer ao longo dos dois próximos meses, ao mesmo tempo conhecendo as principais questões do setor e sugerindo pautas e soluções para seus produtores, protagonistas deste mercado riquíssimo de possibilidades, e assim tentar deixar para seus empreendedores alguma contribuição.

               Para iniciar esta empreitada levantei dados no IBGE da produção total dos principais rebanhos do Brasil nos últimos 10 anos (2009-2019), além de como as criações se espalham regionalmente pelo país. A partir destes números foram produzidos gráficos básicos no software “R” pelo cientista da computação Murillo Rehder Batista, doutor em Ciência da Computação pela USP e pesquisador do CTI/Campinas. A partir destes dados e de informações sobre organização dos criadores em associações e em políticas de incentivo de nível federal me inspirei para construir este programa de trabalho inicial. Agradeço desde já ao amigo Isaías Valim, de São João da Boa Vista, através de quem acompanho a distância este setor, e que agora me despertou a vontade de conhecer e desenvolver um projeto de pesquisa. Também ao recém-conhecido Ubiratã de Souza, veterinário fantástico de Mogi Guaçu, que conhece dos currais à jornalismo científico. Os dois certamente são os responsáveis pelo encantamento que tive com o mundo das ovelhas.


Nos últimos 10 anos os principais rebanhos brasileiros cresceram, e depois dos galináceos e bubalinos, caprinos e ovinos foram os que mais se destacaram. Pode-se dizer que os galináceos cresceram muito tanto por aumento da demanda interna por substituição de outras fontes de proteína mais caras (sobretudo pela produção e ovos) quanto pela demanda externa, e os produtos da atividade bubalina consolidaram-se no mercado, explicando seu franco crescimento. Ambos tiveram suas associações fortalecidas, políticas focadas e representatividade política forte ao longo destes anos. Uma série de inovações tanto na genética quanto nos produtos possíveis da criação dos ruminantes de pequeno porte indicam um ambiente propício demais para o crescimento e diversificação desta atividade, tanto espalhando inovações criadas no cotidiano quanto nos laboratórios de universidades e centros de pesquisa, e investir nela é hoje algo muito promissor e consistente, de pequenos a grandes negócios.


Como pode ser melhor observados nos gráficos acima, ovinos e caprinos foram os rebanhos que mais cresceram sem oscilação desde 2013, pois a suinocultura teve um aumento impressionante entre 2013 e 2017, mas recuou de lá para cá. E se contarmos as iniciativas que estão sendo retomadas e as possibilidades abertas com a finalização das obras de transposição do Rio São Francisco, a tendência é ainda maior. Inclusive, porque trata-se de uma região onde estes animais fazem parte da cultura da população, e o seu uso na culinária é mais forte que em qualquer outra região. Com o fortalecimento econômico da região, consumirão mais, além de terem maior capacidade de difundir uma série de usos tanto no preparo de carnes quanto na produção de laticínios.


 Como se pode observar, enquanto os bovinos predominam nas regiões Norte e principalmente Centro-Oeste, suínos e galináceos, outras grandes fontes de proteína animal, estão em maior número na região Sul. O Nordeste não só é a que possui um maior rebanho de ovinos, como a única região que conta com uma criação considerável de caprinos, confirmando a tendência de crescimento após a melhora no abastecimento de água. Em relação aos ovinos, existe uma predominância da Região Sul na produção de lã, o que explica o fato de a associação nacional de criadores estar no Rio grande do Sul, que possui exemplares com uma qualidade genética única no país. A produção tende a aumentar também no Estado de São Paulo, também com intenso melhoramento de raça, principalmente para o fornecimento de carnes e produtos alimentícios.


Este foi um primeiro esforço em uma primeira olhada nos dados nacionais e regionais do setor de ovinocaprinocultura, e nas próximas semanas há muito a se aprofundar sobre estes e muitos outros números e informações sobre o setor. Irei vasculhar estudos em universidades, outras fontes de dados, informações das associações estaduais e da nacional (optou-se pela ARCO, mesmo havendo uma específica para caprinos, porque a ARCO conta com mais associações estaduais que trabalham com os dois rebanhos). Para a continuidade deste estudo exploratório do setor seguirei os 5 pontos que podem ser resumidos do esquema de análise de associativismo produtivo de Elinor Ostrom, Nobel de Economia em 2009, uma das maiores referências em ação coletiva e sustentabilidade: i) comunidade, ii) regras e normas, iii) características dos recursos, iv) situação de ação (arena onde ocorre a competição, o mercado) e v) instâncias de avaliação e controle (relação entre associações, mercado e governos). Segue um cronograma, com 8 pontos (previsão de 1 por semana):


                Vale reforçar que tanto este texto quanto os próximos 8 serão esboços, com informações, análises e sugestões preliminares. Mesmo com bastante rigor na qualidade dos dados e no cuidado em falar sobre eles, a qualidade só vem com o amadurecimento. Agradeço desde já à todos, apostando que este é o início de uma jornada sem fim neste setor tão rico e sustentável para a nossa economia e promoção da riqueza e bem estar.

Uma ótima semana a todos!

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/IE-Unicamp e do SP in Natura Lab/FCA-Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com




 

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