Plano de Retomada Econômica de Poços: convite para um “novo normal” melhor que o antigo

Fonte: https://pocosdecaldas.mg.gov.br/painel-desenvolvimento/galeria.php 

Na última semana foram divulgados oficialmente os resultados da pesquisa sobre hábitos de consumo em Poços de Caldas, parte fundamental a consolidação de estratégias para o Plano de Retomada Econômica, liderado pela SEDET. Pode-se dizer que trata-se de algo simbólico, marcando um momento de balanço sobre os resultados já atingidos para este ousado projeto de construção de bases mais sólidas para o desenvolvimento do município e dos vizinhos. Apesar de todos os imprevistos causados pelo desenrolar da pandemia e da postura ética da equipe em fazer pouco barulho durante o período eleitoral, muitas das mais de 100 ações previstas foram concluídas ou iniciadas entre meados de agosto e este final de dezembro. Mais que isso, todas estas ações estão disponíveis no site, inclusive os diferentes estágios de execução (ao final deste texto coloco o link).

                A pesquisa em si é bastante acessível, clara na apresentação dos dados e permite a criação de estratégias de ação para os comerciantes, e se usada em conjunto com o levantamento feito junto aos empresários sobre pontos fortes e fracos da estrutura econômica de Poços, divulgada em agosto, permite a construção e uma série de planos estratégico para o conjunto de todos os agentes econômicos e políticos do município. Por exemplo, sabe-se que mais da metade dos moradores da cidade compram com dinheiro (59%, número alto para uma pesquisa feita na internet, em uma população de alta escolaridade), dado que por si só demonstra uma tendência ao consumo nas opções locais (ou, pelo menos, baixa adesão a meios digitais). Também indica poucas queixas sobre atendimento, reforçando a convicção sobre a capacidade de receber turistas, e que é um diferencial a ser aprimorado. Estas são algumas das várias conclusões sobre como organizar comércio e serviços para o “novo normal”, e uma análise mais completa exigiria algo que não cabe num artigo como este. Mas este aprofundamento é primordial, dado que ao comparar estes dados e os colhidos junto aos empresários no meio do ano com as ações pretendidas e já executadas a sociedade poderá aproveitar o máximo que este planejamento pode oferecer.

                Já foram concluídas várias ações, principalmente as de preparação dos recursos humanos para os saltos qualitativos e quantitativos que a SEDET e a prefeitura pretendem para a economia poçoscaldense no pós-pandemia. Muitas ações foram promovidas para o mapeamento e preparação dos pequenos produtores rurais e mesmo a atividade agropecuária de produtos especiais (de alto valor agregado), tanto no que se refere ao abastecimento local quanto para modernizar a comercialização e escoamento do que é produzido em torno do vulcão. Isso demonstra uma consciência de que o turismo dá muito mais certo quando associado à um leque de produtos locais especiais, como é o vinho na Serra Gaúcha e doces no Circuito das Águas (a região de Poços tem os dois, premiados, inclusive); ter uma identidade com produtos especiais garante renda para o ano inteiro, não dependendo das temporadas.

                Aliás, este novo modelo de turismo associado a produtos rurais foi vinculado a um projeto de sustentabilidade, numa ação conjunta com o Instituto Federal. Se ideias como a de Economia Circular tornarem-se marcas de um novo desenvolvimento irão atrair tanto visitantes como consumidores de países desenvolvidos, como os escandinavos (os países escandinavos compram café com selo de sustentabilidade). Para isso, será necessário um trabalho de adaptação do parque industrial à economia limpa, prevalecendo atividades de criação e alta tecnologia, o que torna a população mais consciente e atrai gente de alto poder aquisitivo. É um passo importante para que a tão sonhada proposta de cidade inteligente também atinja a questão dos resíduos sólidos e energia, e não fique apenas nas tecnologias de softwares para abrir e fechar portão com o celular ou mapear vaga para estacionamento.

                Quando apresentado, em meados de agosto, a SEDET divulgou que até dezembro estaria executando as ações levantadas nos diagnósticos, e realmente o fez. Executou o possível dadas as condições (mais que o esperado), sem muito barulho, apresenta ao final do ano cada ação e o que foi feito (em muitos casos, com quem executou e com quem falar sobre cada uma). Existem sim pautas de alto custo, mas foi visível a preferência de atuar mais no planejamento e na articulação das forças envolvidas do que o investimento direto do poder público, uma visão bastante moderna de induzir o desenvolvimento. É primordial uma atitude da população e setores organizados de conhecerem e usarem as informações e as conquistas do “Plano”, aprenderem com isso tudo e aproveitarem todas as possibilidades vislumbradas, com assessoramento técnico e a dedicação de quem nunca se dá por satisfeito (e nunca devemos estar). Entender coletivamente o potencial deste trabalho vai consolidar a força do conjunto destas ações, inclusive para os municípios vizinhos, e o “novo normal” tem que ser melhor que o antigo.

Link com a relação das ações da SEDET no Plano de Retomada Econômica

https://pocosdecaldas.mg.gov.br/painel-desenvolvimento/retomada.php

Link para o Projeto RB Sustentabilidade 4.0

https://www.facebook.com/RB-Sustentabilidade-40-103205484766012

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do “SP in Natura Lab”, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com

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