Um universo para redescobrir. Lições de Tapiratiba

 

                Tapiratiba é um município relativamente recente, sua emancipação de Caconde data de 1928, e seu território começou a ser ocupado na década de 1870, basicamente para a produção de café. Está cercada por municípios economicamente fortes, como Guaxupé, São José do Rio Pardo e Mococa, o que naturalmente dificultaria a formação de uma estrutura de atividades econômicas urbanas considerável. A realidade é que existem indústrias importantes na cidade, de fábricas de bolas de capotão até usina de compostagem de alta tecnologia, passando por uma razoável atividade no setor de laticínios, o que resulta em uma organização emergente do empresariado que se formaliza com a existência da Associação Comercial e Industrial de Tapiratiba (ACIT). Esta articulação dos setores econômicos pode ser o principal fator a promover uma redescoberta da cidade para seus cidadãos e para a região toda.

                De fato, o município se destaca em atividades produtivas, tanto agropecuária como industrial. Em 2017, 25 % de sua economia girava em torno de atividades industriais, número bastante alto para um município de seu porte. As atividades rurais também apresentavam um número razoável, 21%, mostrando que este setor que deu origem à localidade ainda representa um importante papel para o sucesso econômico de lá. Comércio e serviços são 53 % da economia local, o que confirma a tendência de sua população em consumir nos centros maiores que a rodeiam; todavia, este setor mantem vivo o sentimento de cooperação e sua organização em forma de associação, o que mostra o potencial de evolução na medida em que forem elaborados projetos criativos que explorem todos os potenciais de negócio locais possíveis para serem levantados.

                Esta capacidade de organização e mobilização do setor de comércio e serviços foi fundamental para preparar a população e os empreendedores locais para enfrentar as restrições impostas pela pandemia. O poder público local seguiu o que foi proposto pelo Governo do Estado de São Paulo, e diante da revolta de muitos comerciantes a própria ACIT chamou a responsabilidade de aconselhar seus associados, utilizando as redes sociais como veículo para informar a população. Esta mobilização da sociedade civil através de uma entidade representativa dos empresários foi o que demonstrou ter dados mais certo no combate à pandemia, tal que a mobilização deu certo, sendo que foi registrado apenas um óbito por Covid 19. O protagonismo da sociedade civil neste processo aponta para várias possibilidades para o desenvolvimento local.

                Como em outras localidade com características semelhantes, as restrições fizeram com que seus cidadão consumissem menos em outros lugares, privilegiando os serviços locais de delivery. Com isso, a tendência é ter havido um aquecimento dos negócios locais, dando um novo gás para empreendimentos dos próprios tapiratibenses. Isso pode dar origem à um ciclo virtuoso na economia local, inspirando outras atividades como o turismo, que além de trazer uma renda considerável e colocar o município em programas importantes do governo estadual costuma fazer com qu8e a população cuide mais dos espaços públicos, deixando tudo melhor não penas para o turista como para os próprios moradores.

                Se todos os setores organizados da sociedade civil se articularem, como ongs, associações e grupos formados para defender causas importantes, naturalmente o que há de melhor em Tapiratiba será redescoberto e novas possibilidades virão à tona. É um momento em que todos se redescobrirão e se reinventarão, e com a capacidade produtiva e as belezas naturais fatalmente o pós-pandemia pode ser um momento especial para a cidade. Basta um espírito de cooperação e abertura para qualquer ideia nova prevaleça na cidade. Há todo um universo a ser potencializado lá, com muitos elementos já presentes em sua economia e na sua sociedade, o que não pode ser desperdiçado de forma alguma. Existem várias cadeias produtivas aonde ela pode ser integrada e os agentes políticos, econômicos e sociais tem tudo para avançar.

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


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