Sinergia e produtividade. Lições de Vargem Grande do Sul
Pode-se dizer que o grande
diferencial de Vargem Grande do Sul na região é que ela sabe o que é ser líder
nacional em um segmento produtivo, o que necessariamente forma capacidades
gerenciais capazes de compreender mercados mundiais e empresários em sintonia
com grandes conglomerados, tanto no setor agroindustrial como ceramista. Com
isso, há um potencial gigantesco de aprendizagem econômica se os grandes
empreendedores do município forem articulados no sentido de disseminar o ritmo que
conhecem para outras iniciativas locais, tanto na esfera econômica como social
e cultural. Esta minha iniciativa é apenas uma apresentação de muitos
diagnósticos que podem ser feitos sobre este município e das inúmeras
possibilidades de desenvolvimento que existem nele, e a Associação Comercial e
Industrial de Vargem Grande do Sul (ACI-VGSUL) sintetiza em si muitas destas
possibilidades de arranjo para um futuro promissor demais.
Mesmo possuindo esta enorme força em dois
setores produtivos específicos, em 2017 tinha 79,42 % da economia vargem-grandense gira
em torno de comércio e serviços, apontando para a importância da associação
comercial para a organização da economia local. Considerando-se a forte presença
dos ceramistas na ACI VGSUL (incluindo seu presidente), pode-se dizer que cerca
de 90% da economia local tem relação com ela, tal que ela articula os
interesses de uma gama enorme de setores, exigindo assim uma versatilidade e
uma sinergia com os mais variados ramos e com o poder público realmente fora do
comum. Com isso sua direção desenvolveu uma habilidade de negociação a esfera
política que foi evidente ao tratar dos problemas causados pela pandemia.
Os
resultados do modo com que a prefeitura de Vargem Grande do Sul lidou com a
crise gerada pela Covid 19 são realmente muito bons. Mesmo não decretando
quarentena já no dia 20 de março e mantendo uma postura mais flexível que a
maioria dos municípios, aguardando uma semana para medidas mais severas e assim
permitindo uma melhor preparação de seu empresariado, contabilizou até agora
apenas 4 óbitos, número baixo em relação às vizinhas e levando-se em
consideração a alta rotatividade de pessoas na cidade. A ACI manteve desde o
começo um ótimo diálogo com a gestão municipal, priorizando a conscientização
da população e dos empresários e buscando a todo momento a medida do bom senso
entre saúde de um lado e emprego e renda do outro, estimulando o distanciamento
e as medidas de proteção e higiene. Isso provavelmente permitirá uma retomada
econômica pós-crise consideravelmente mais efetiva.
Esta
articulação entre os principais setores econômicos, mostrando capacidade de propor
caminhos para superação de crises, pode de fato ser um norte para um razoável
programa de desenvolvimento local, não apenas econômicos como em todas as
esferas da sociedade. Apesar de apenas 14,5 de seu PIB ser industrial, o setor
ceramista de Vargem tem experiência em ter liderado um Arranjo Produtivo Local
(APL) da FIESP, que mesmo não existindo mais certamente deixou um legado
organizacional que pode ser resgatado se retomado com maior objetividade e
senso de cooperação. Pode-se ver a força que ações em conjunto podem oferecer
ao se levar em conta a importância da associação de bataticultores tem para os
produtores, tal que hoje a ABVGS é a maior associação e produtores de batata do
Brasil, negociando com as maiores do planeta. Ainda pode-se notar uma capacidade
de ação conjunta entre os que produzem cana para a Abengoa, uma multinacional.
Com isso, temos uma série de experiências em nível internacional que podem tanto
ser uma inspiração para a modernização dos demais setores como uma conexão
entre a cidade e o mundo.
Na
medida em que as demais organizações da sociedade civil entrarem em sinergia
com o ritmo de seus principais setores econômicos, o município como um todo
certamente fará a atualmente tão falada reinvenção de uma forma realmente
especial. O poder público tem uma importância fundamental na coordenação destes
processos, mas é da sociedade que eles brotam, através de ONG’s e vários outros
tipos de associação: patronais, trabalhistas ou de interesse civil. É da
mobilização destes setores que surgem as necessidades de forma mais organizada
e clara, muitas vezes é disto que também saem as melhores soluções.
Foi
de fato uma grande satisfação este percurso pelos 27 municípios cobertos por
este projeto, e mais ainda finalizar com a cidade de Vargem Grande do Sul. Acredito
ter dado algumas contribuições neste momento tão difícil pelo qual passamos. No
caso desta última cidade, penso ter deixado meu recado do quanto ela tem
potencial para se desenvolver ainda mais na medida em que o terceiro setor
estiver cada vez mais mobilizado e trazendo demandas para a esfera pública. Capacidade
produtiva e sinergia dos setores econômicos com poder público ela já mostrou
possuir, e a assimilação desta mentalidade pelo todo da população pode ser um
caminho promissor.
Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações
comerciais”
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html
Marcos
Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto
de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder
do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
Comentários
Postar um comentário