Resiliência, potencial e amparo. Comércio e pandemia em Santo Antônio do Jardim

 

            Santo Antônio do Jardim começou como parte de uma fazenda registrada em 1816, que foi sendo dividida entre novos donos e herdeiros e que tornou-se povoado na virada do século XIX para o XX. Antes como distrito rural de Espírito Santo do Pinhal, ganhou autonomia em 1953, e sempre se caracterizou como tradicionalmente rural. Porém, nas últimas décadas vem aquecendo suas atividades econômicas urbanas, mesmo com a proximidade de dois centros comerciais consideráveis como Pinhal e São João da Boa Vista, além de Andradas do outro lado da divisa com o Estado de Minas Gerais. Como será demonstrado adiante, este município mostrou a resiliência necessária para garantir uma força  comercial incomum para lugares com sua história e situados no contexto geográfico aonde se encontra, o que aponta para um enorme potencial, principalmente se houve uma conscientização sobre as possibilidades que os problemas com a pandemia exigiram.

                De fato, Jardim está entre os que contam com maior importância das atividades do campo, com 23,77% de seu PIB vindo da agropecuária. Porém, em 2007 este número era consideravelmente maior (31%), tendo subido em 2011 (36%) e baixado sensivelmente em 2017. Já a indústria, que representava 6,86% em 2007, em 2017 já estava em torno de 10%. A atividade comercial e de serviços, que contava com 61% em 2007, chegou a 69% em 2009, recuando até os 66% em 2017. O que pode-se dizer é que aconteceram algumas oscilações sim, mas com uma sinalização clara para o fortalecimento das atividades urbanas, o que não apenas indica uma melhora na capacidade de consumo da cidade, como uma capacidade de trazer sues cidadãos para o comércio local, mesmo com a forte concorrência dos vizinhos. Porém, esta certa instabilidade pode ser o motivo que levou à desagregação dos empresários comerciais e fornecedores de serviços, levando à temporária desativação da associação comercial local.

              Ter esta atividade visivelmente forte mas com seus empresários pouco articulados foi realmente uma dificuldade contra a qual o poder público teve que lidar ao desenhar a estratégia de combate à pandemia. Tentou-se seguir as restrições apontadas pelo Governo Estadual, mas com uma reação negativa por parte dos empreendedores locais. Quando não há um senso de cooperação, fica difícil a aplicação de qualquer política pública, tal que muitos se revoltaram e agiram de modo independente, surgindo até uma série de denúncias informais sobre estabelecimentos comerciais que abriram, em desacordo com os decretos. A prefeitura percebeu a desarticulação, e optou por uma postura didática e de orientação, conseguindo, aos poucos, a cooperação. É preciso estar bem atentos aos personagens que agiram neste momento e entender quais os caminhos seguidos para conseguir a cooperação e uma ação conjunta, pois nisto pode estar a gênese de uma nova organização do empresariado local.

                Estes momentos de crise costumam renovar a forma com que as pessoas se organizam, o com isso pode acabar sendo um impulso para a reativação da associação comercial. Para municípios como Santo Antônio do Jardim, a pandemia provavelmente fez com que muitos que compravam em outras cidades passassem a adquirir os seus bens localmente, pelo serviço de delivery. É um momento em que o ampara dado pelo poder público e o sentimento de cooperação de toda a sociedade pode revigorar a capacidade de organização, abrindo portas para outras atividades, como turismo rural e ecológico, atividades que além de trazer divisas estimula os cidadãos a cuidarem dos espaços públicos. Com a resiliência que eles mostraram, basta apenas uma orientação para várias novas formas de negócio brotarem ali, alavancando ainda mais a cidade em termo regionais. Estamos em um período propício para novas ideias e projetos, e sempre vale a pena aproveitar.

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


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