Rearticulação urgente, tudo para dar certo. Lições de Santa Rosa de Viterbo

 


             Faz três dias que Santa Rosa de Viterbo confirmou seu segundo óbito por Covid 19, o que caracteriza um razoável controle da situação neste município de aproximadamente 25 mil habitantes, e que faz parte da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, que estava na fase vermelha do Plano São Paulo até 7 de agosto. Ou seja, está em uma situação muito melhor que suas vizinhas, mas mesmo assim teve que conviver com as restrições aplicadas para evitar a disseminação da Covid 19. Nem por isso este período deixa de provocar uma importante reflexão sobre mudanças que já estavam a caminho, como digitalização da atividade econômica, e também sobre a necessidade de organização dos setores empresariais para assimilar e disseminar estas transformações que ocorreram no mundo todo.

                Com a agricultura representando 5,36% da economia local, 37% de seu PIB é composto pela atividade industrial, o que coloca Santa Rosa de Viterbo entre os municípios aonde a manufatura é mais importante entre as 27 cidades estudadas neste projeto (é a terceira em importância da indústria). Com isto, existe uma grande parte da população cuja renda vem dos setores produtivos, e estas pessoas tem condições de consumir no varejo local e no setor de serviços, que consta como 56% da economia local. Ou seja, existe um enorme potencial de crescimento no setor de comércio e serviços, o que torna urgente uma consolidação da organização dos setores empresariais.

                Todavia, há uma grande dificuldade de integração destes setores econômicos na Associação Comercial e Industrial de Santa Rosa de Viterbo (ACIRV), que como o próprio nome diz envolve não apenas lojistas, mas os mais variados setores da economia local. Possuir esta grande abrangência de setores e não reduzir-se à um apenas é fundamental para que o empresariado organizado possa propor alternativas de desenvolvimento para o município, que se constituiriam em fundamentais interlocutores para o poder público. Tradicionalmente, as associações comerciais também interagem com todo o terceiro setor das sociedades aonde atuam, enriquecendo o debate público e promovendo o desenvolvimento, o que melhora a condição de vida da população e assim ela acaba consumindo mais, gerando um ciclo virtuoso.

                Neste período de pandemia faz falta esta articulação dos empreendedores locais, cujo protagonismo seria fundamental para a retomada econômica e para a reinvenção de vários aspectos da economia e da sociedade que a pandemia tornou evidente. Também seria crucial na busca de alternativas para a própria prefeitura tanto nas escolhas a serem tomadas diante das restrições como na própria conscientização da população da necessidade do distanciamento social, afinal, quanto mais tempo demorar para que voltemos à normalidade, mas tempo os setores econômicos (sobretudo o comércio) irá demorar para recuperar o faturamento.

                Uma mobilização da sociedade para fortalecer e redirecionar a ACISRV mostra-se urgente, para todas as dimensões da sociedade, não apenas para o varejo. Se entre 2007 e 2015 houve um sensível crescimento do setor de comércio e serviços (de 45,24 para 66,55%), nos dois anos seguintes aconteceu uma queda de 10%, um sintoma claro do abandono do modelo de organização mais amplo proporcionado pelo modelo das associações comerciais. Este é um instrumento fundamental para quem está tão próximo de um centro poderoso como Ribeirão Preto, e estamos em um momento de reinvenção geral, que nivela a todos, e quem conseguir se organizar melhor sai em posição de vantagem. Uma bela oportunidade para esta cidade consideravelmente dinâmica saltar para o novo caminho que o momento aponta.

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


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