Na porta de sua casa. Lições para Santa Cruz da Esperança
Santa Cruz da Esperança talvez
seja o maior desafio dentre os 27 municípios que serão abordados, pelo menos
quando o assunto é organização do empresariado local, e tentarei aqui dar
algumas sugestões sobre como a relação com o mercado interno pode ser
otimizada, fortalecendo assim a economia local e potencializando seus agentes
para organizarem-se, pois a ideia neste projeto é, além de saber o que foi
feito contra a crise, entender como empresários podem planejar o
desenvolvimento local para fortalecer seu próprio mercado. Emancipada de Cajuru
em 1993, e segundo estimativa da Fundação Seade possui cerca de 2000
habitantes, sendo que 31,5% reside na zona rural, o que caracteriza um mercado
consumidor muito espalhado territorialmente e propenso a consumir em outras
cidades, pois não há uma concentração e muitas vezes as pessoas estão realmente
mais próximas de outros centros. O que torna isso mais radical é o fato de
fazer parte da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, o que torna mais difícil
ainda atrair o consumidor: a saída é ir até a porta do cliente.
Com
41% de sua economia girando em torno de atividades agropecuárias, onde destaca-se
a pecuária bovina e a produção e leite, Santa Cruz da Esperança é onde as
atividades rurais mostram-se mais efetivas, de modo que os que se dedicam à ela
possuem um bom poder aquisitivo. A atividade industrial é pouco representativa,
com cerca de 7% da economia, e serviços e comércio constam como 51% de toda
atividade econômica local: considerando-se que aí engloba o fornecimento de
insumos agrícolas, por exemplo, é um número que pode ser aumentado.
Considerando-se
que com a pandemia houve uma substituição momentânea do consumo fisicamente nos
estabelecimentos comerciais pelo recurso do delivery, esta foi uma bela janela
de oportunidade para os empreendedores locais, pois podem fazer a entrega tendo
um menor custo que opções de fora, além de garantir um atendimento
personalizado neste quesito. Resta saber se este procedimento de vendas também
se estendeu para a zona rural (1/3 da população), pois com isso seria formada
uma rede de consumo que até então esta cidade não conheci, delineando uma
classe empreendedora que ainda não havia ali. Somando-se à alguns agentes que
já apresentavam a consciência da necessidade de ações em conjunto para alimentar
um mercado, como por exemplo o grupo de patrocinadores de festas religiosas ou
coisas do tipo, tem-se um embrião de associação comercial.
Esta organização
da classe empresarial é fundamental para o planejamento econômico e o
desenvolvimento local, o que a comunidade pode ver através do exemplo da Associação
de Produtores Rurais de Santa Cruz da Esperança, que já conseguiu uma série de
melhorias para este setor produtivo. Esta articulação também chamaria a atenção
dos cidadãos para o comércio local, fortalecendo a economia, gerando riquezas e
criando empregos. É muito interessante observar uma estrutura econômica ainda
em formação como no caso deste município, e de alguma forma poder ajudar no seu
sucesso. As mesmas oportunidades e necessidades de uma localidade desta natureza
servem para mercados de bairro ou quando se quer atingir a população rural, e
por isso este exemplo pode ser interessante para todas as cidades, como
inspiração ou como informação.
Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações
comerciais”
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html
Marcos
Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto
de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do Urban Living Lab-SP, líder
do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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