Tradição e ruptura. Lições da ACE Divinolândia
Como em quase todos os lugares, o comércio de Divinolândia foi obrigado a aderir a novas formas de trabalhar, pautando no uso de recursos digitais, delivery, ou apresentação dos produtos pela internet e apenas entrega na loja, sem que os clientes entrassem nos estabelecimentos. Esta questão de não entrar na loja mudou muito o modo de vender, pois o espaço comercial e a apresentação da mercadoria nos moldes tradicionais já não são mais elementos essenciais no processo de escolha. Tais mudanças impactam tanto sobre os lojistas como sobre os consumidores, que tiveram e estão tendo que se adaptar, e este processo geralmente é difícil, pois são hábitos enraizados nas pessoas.
A estratégia da ACE Divinolândia pode ser vista como radical, mesmo em relação à cidades maiores, reforçando a característica de vanguarda do seu setor comercial e de serviços. Seguindo uma tendência desta pandemia, a de adotar de uma vez mudanças que já vinham acontecendo aos poucos e estavam previstas para os próximos 5 anos, irá adotar uma plataforma de vendas digital, como a de Mococa. Através dela, não só apresentará os produtos pela internet, mas a própria venda acontecerá pelo sistema, como fazem as grandes lojas como Magazine Luiza e Lojas Americanas. A associação oferecerá o serviço para seus associados. Isso definitivamente leva seus comerciantes de uma dimensão municipal para uma atuação regional (ou até estadual e nacional, no caso de produtos especiais).
Tal iniciativa necessita de uma preparação especial da maioria dos comerciantes, que muitas vezes estão no setor há décadas, e tem dificuldades culturais para transformações mais bruscas. Organizar um grupo de trabalho para prepará-los para a mudança também é uma prioridade para o atual presidente, Bruno Maltempi. Segundo ele, estas dificuldades foram experimentadas durante a quarentena, e já está sendo preparado um projeto para assimilação de novas formas de fazer negócios.
Vários setores são abarcados pela associação, ela coopera com outros setores com organização independente na cidade (como agricultores e turismo), e uma adoção adiantada de novos meios pode ajudar todos os setores econômicos a se projetarem para o futuro. Uma atuação desta instituição na raiz da sociedade de Divinolândia pode ser um guia, e ela está disposta a isso, pois já está habituada organizar o interesse de vários setores da sociedade. Pode funcionar como um necessário contraponto cooperativo em relação ao poder público, enriquecendo o leque de opções para políticas públicas, sabendo responder rapidamente às privações causadas pela pandemia.
Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html
Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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