Reinvenção, integração e proatividade. Lições da ACE Casa Branca



 

      A tradição agrícola de Casa Branca pode ser confirmada através dos dados levantados por este projeto no momento de planejamento desta empreitada pelas associações comerciais da região: em 2017, 25,82% do PIB casabranquense vinha de atividades rurais diretamente, terceiro município neste quesito, atrás apenas de Cássia dos Coqueiros e Santa Cruz da Esperança. O município também possui forte atividade comercial, que cresceu exponencialmente nos últimos 10 anos, conta com instituição de ensino superior, ensino médio técnico, além de ser um importante fornecedor de insumos agrícolas para toda a região. Ou seja, conta com uma atividade urbana bastante dinâmica e diversificada, o que se reflete na atuação da Associação Comercial e Empresarial.

                De fato, é uma das que mais se relaciona com outras associações vizinhas, e mostrou uma postura incisiva desde o início da pandemia. Logo no final de março já encaminhou um ofício para o governador, publicado no próprio site desta ACE, reconhecendo a urgência dos cuidados sanitários e a importância em se encontrar um protocolo que permitisse algum tipo de funcionamento do setor de serviços dentro do possível. Como o caminho seguido foi outro, buscou localmente alternativas e capacitação do varejo para atuar de uma outra forma que não fosse a loja física. Também houve um incentivo para os setor de alimentação passar a utilizar aplicativos de entrega e outros recursos para delivery.

                De acordo com Luciana Andrade, o setor de alimentação conseguiu se adaptar às novas necessidades, desenhando uma nova cadeia envolvendo a atividade, que vai de embalagens a entregadores, algo a ser observado com muita atenção por quem planeja a economia da cidade, entre os quais a associação comercial. Quanto ao varejo, existe uma sensível redução da atividade, mesmo com o comércio podendo abrir as portas. Mesmo podendo, as pessoas estão preferindo não interagir no mercado, causando forte impacto, principalmente sobre o setor de vestuário. Está se estudando a implantação de uma plataforma comercial na internet, especialmente uma vitrine virtual, que ao mesmo tempo mostra os produtos mas não afasta a atividade comercial da loja física porque as pessoas entram em contato com o estabelecimento para comprar e recebem a mercadoria através de um entregador do município: isso não coloca o comércio local em concorrência direta com os grandes magazines (tal que o consumo continua ligado ao local) e leva à formação de novas cadeias econômicas, envolvendo desde a alimentação do sistema até a entrega dos produtos. A decisão final sobre como será esta plataforma será dos comerciantes associados.

                Mesmo a atividade rural contando com uma outra instituição patronal para a articulação dos produtores, o sindicato rural, existe um esforço da ACE Casa Branca em manter um espírito de colaboração com o agro, tão importante no município. Estas iniciativas de aproximação se ancoram em projetos do SEBRAE, por exemplo, como o Encontro Regional das Lideranças do Agronegócio, que acontece agora no início do mês de julho em plataforma virtual. No mais, ainda é um esforço a ser feito, um desafio para todos os municípios da região (pois quase todos tem uma agropecuária forte) que foi abraçado em Casa Branca. Vale lembrar que existe uma relação estreita já estabelecida entre a ACE e a indústria de laticínios, na qual sem dúvida o município é expoente.

                Pode-se dizer que a associação presidida por Luiz Antônio Marques entende a complexidade em atuar em um município que ao mesmo tempo é forte no setor agrícola mas que lida com possibilidades muito mais complexas, tanto devido à localização quanto à concentração de serviços diversificados. Parece mais difícil uma reinvenção neste contexto, mas as possibilidades se tornam bem mais amplas quando se enfrenta o problema sem rodeios. Construiu-se uma boa relação com o poder público local, sem que se perca a identidade necessária para se manter o foco no interesse do associado: empresariado e população não são opostos, e uma boa relação entre estes pode ser o segredo do bem estar.

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com

 


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