Independência e organização. Lições de Itobi



Entre as cidades com menos de 20 mil habitantes, Itobi é disparado onde o setor de serviços tem mais relevância na economia local (69%). Aliás, entre 2007 e 2017 aconteceu um crescimento de aproximadamente 12 % nas atividades comerciais e prestação de serviços, o que denota uma transformação considerável na estrutura econômica do município, que tradicionalmente tinha como base a agropecuária. Este fenômeno é interessante se levarmos em consideração sua proximidade com Vargem Grande do Sul, Casa Branca e São José do Rio Pardo, bem maiores tanto em termos de população quanto em relação ao PIB. Esta força das atividades urbanas pode ser uma explicação para a admirável organização de sua associação comercial, como será exposto mais adiante.

Apesar de 47 contágios confirmados de Covid 19, Itobi não teve nenhuma morte até agora. Mesmo assim, a prefeitura manteve a quarentena pelo menos até o dia de hoje, 14 de julho, pois entre o dia 25 de junho e esta terça houve um aumento de 22 casos (47 casos atualmente), o que para um município de aproximadamente 7.600 habitantes  acendeu um sinal de alerta, apesar de o comércio não estar mais totalmente fechado. Houve um trabalho da ACE Itobi em formular uma cartilha de funcionamento para comércio e serviços, com os cuidados essenciais, além disponibilizarem na internet catálogos das empresas para incentivar o uso da rede na atração do consumidor, diante das restrições no espaço físico dos estabelecimentos; pensa-se na implantação de uma market place, mas ainda em estudo. Solicitou-se também à prefeitura adiamento de taxas municipais até o final do ano.

No que se refere às ações para contornar a crise, esta associação comercial seguiu a linha da maioria das demais mais bem estruturadas. O que chama atenção é que, apesar do tamanho da cidade e de ser uma associação relativamente jovem, ela já presta serviços para o empresariado de forma marcadamente diversificada. Possui serviço de estagiários (eram 18 antes da pandemia, hoje são 9), plano de saúde, linha de crédito e certificado digital, além do tradicional serviço de proteção ao crédito. Pretende também implantar o programa “Menor Aprendiz”, formando mão de obra e incluindo pessoas. É uma demonstração de que pequenos municípios tem condições de adquirir uma organização autônoma de sua atividade comercial e contar com atividades importantes dentro de seu próprio território, sem perder a conexão com os vizinhos maiores.

Temos em Itobi uma ACE já bem organizada e preparada para se desenvolver, cumprindo as mais variadas funções que se espera dela. Isso certamente contribuirá de modo efetivo para orientar qualquer projeto de desenvolvimento local, e pode ser uma parceira importante também para agentes de outros municípios interessados em ajudar a promover o fortalecimento da economia local. A construção de diálogo com ela e programas de cooperação terá fácil colaboração local, o que provavelmente atrairá agentes bastante articulados.

 

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


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