Guardiã do Planejamento: lições da ACI Mococa



           A união entre os mais variados setores do empresariado a favor do desenvolvimento da sociedade mocoquense e da região é provavelmente a maior marca no trabalho da Associação Comercial e Industrial de Mococa, sustentando o lema “juntos somos mais fortes”. Ela é referência para vários municípios vizinhos, provavelmente devido à sua versatilidade, qualidade que a credenciou a exercer um papel especial numa economia diversificada. A capacitou também a ajudar a identificar vários negócios potenciais onde a maioria não vê mais que um problema, tornando-se eficaz especialmente em situações de crise, como a que vivemos agora. Também se firmou como importante parceira do poder público, não apenas fazendo o meio de campo sempre necessário entre política e economia como assumindo propostas para todas as questões da cidade.

               Como a maioria dos municípios da região a estrutura econômica de Mococa foi historicamente marcada pela atividade rural, onde se destaca a pecuária bovina, como uma das mais tradicionais bacias leiteiras do país, inclusive, uma importante indústria de laticínios. Dentre os 7 municípios com mais de 60 mil habitantes tratados neste estudo é aonde o setor agropecuário é mais representativo na economia (7,72 %), com uma indústria em franco desenvolvimento (25,55 % do PIB) e um setor de comércio e serviços muito representativo, diversificado e atrativo (66,73 %). A ACI Mococa desenvolve projetos com os três setores, sem abrir mão da colaboração com a prefeitura. Aliás, a ACI Mococa foi a guardiã do Plano Mococa 2050, um trabalho desenvolvido através da iniciativa privada juntamente com a Agência Regional de Desenvolvimento que orienta a elaboração de um Plano Diretor. Posturas como estas levou seu presidente a liderar o Departamento de Desenvolvimento e Gestão Empresarial no primeiro semestre de 2020, onde dedicou intensos esforços em projetos de extrema importância para o município como a reorganização do Condomínio Industrial, elaboração do projeto de um Centro de Inovação Tecnológica junto aos cursos técnicos e superiores oferecidos na cidade e formação do Conselho de gestão do mercado Municipal.

                Deste modo, participou efetivamente da elaboração dos planos locais para superar a crise como uma espécie de cogestora, tanto na saúde quanto no comércio. No poder público, assumiu em conjunto a missão de estruturar estratégias para a flexibilização da abertura do comércio de Mococa não apenas pleiteando apoio aos Governos, mas também buscando caminhos dentro da legislação. Isso tudo como já mencionado neste texto, desenvolvendo ações para possibilitar que as vendas continuassem a acontecer mesmo com o comércio de portas fechadas. Em relação aos seus associados, estimulou e orientou sobre como reinventar seus negócios nos meios digitais, com o uso de redes sociais e delivery, além de oferecer uma plataforma de vendas nos moldes mais modernos, o Shopping Mococa. Vendo a dificuldade dos empreendedores em negociar com seus fornecedores a entidade colocou à disposição de seus associados um de seus diretores para realizar consultorias gratuitas que realizam este serviço.

                Mesmo atualmente longe da administração pública, por solicitação da Diretoria Regional de Saúde a Associação assumiu a missão de realizar o cadastramento dos motoboys que atuam com os serviços delivery na cidade para que estes sejam acompanhados e orientados sobre os cuidados sanitários, valorizando estes profissionais de linha de frente e assumindo uma necessidade de política pública local. Esta postura é um retrato do empreendedorismo a partir do qual a ACI Mococa opera em todas as situações, entendendo que todo cidadão e todo problema local e regional pode exigir atitudes inovadoras e são de sua alçada.

                Pode-se dizer que estes dois diferenciais apontados aqui nesta associação comercial (“guardiã do planejamento” e “cogestora da crise”) são consequências de um terceiro, o fato de focar sua ação sempre no fortalecimento empoderamento do cliente, seja este cliente um empresário ou um consumidor (ou mesmo, o poder público), de modo que sempre consegue fortalecer quem é atendido por ela. Não é atoa que possui proporcionalmente um dos maiores números de associados do Estado (1050) e que é de lá um dos vice-presidentes da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (FACESP). A ACI Mococa não apenas é uma ótima inspiração como realmente cumpre um papel de orientação para muitas das demais associações da região, exatamente por este espírito colaborativo, resultado tanto do tempo que seu grupo gestor está a sua frente e visão macro em relação à sociedade.

 

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com

 


Comentários

  1. Desde que a participação do comercio local seja mola propulsora e não umbilical eu acredito que seja a saída. Mas MOCOCA CARECE de percepção do SENSO COMUM, atribuir responsabilidades na conexão entre o possível e o realizável é situação sine qua non de resultados merecedores, mas é preciso estimular isso funcionários, clientes, usuários e sobretudo nas empresas familiares o compartilhamento das informações em tempo real, a fidelidade do consumidor vem sobretudo de uma participação efetiva e corpórea do sistema ao qual as empresas estão inseridas. #somosmaisfortes #éprecisoesforço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sensacional, Carlos Alberto. Este processo é difícil mas o único caminho. Parabéns!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Aprendizado e alternativas no Projeto Inova Juntos – CNM: caso de Águas da Prata

A agroindústria na Economia Verde

POR QUE NÃO O PROTAGONISMO DO AGRO NA REINDUSTRIALIZAÇÃO?