Equilíbrio para as oportunidades. Lições da ACE Pinhal


         Apesar de tradicionalmente ser um pólo produtor e exportador de café, Espírito Santo do Pinhal está entre as pioneiras na região em contar com instituição de ensino superior, e hoje conta com um importante parque industrial, além de fazer divisa com outros municípios representativos nos setores de serviços e na indústria, como Mogi Guaçu, Itapira e São João da Boa Vista. A cidade consegue manter sua autonomia comercial e nos serviços (mais de 70% da economia está neste setor), e percebe-se sua capacidade de aproveitar oportunidades a partir da postura de sua associação comercial diante da pandemia.

      Acompanhando esta complexidade que as condições geográficas e institucionais locais, sua associação comercial dá conta de seu papel entendendo que tão importante quanto apresentar soluções inovadoras é aproveitar com equilíbrio as oportunidades já existentes pelo estado, pela mercado ou pela sociedade civil em geral. Conta com associados produtores de café e indústrias, criando oportunidade para eles oferecendo cursos de qualificação do SENAC, plano de saúde Unimed, emitindo certificado digital e certificado de origem (para exportação), até mantendo colaboração com movimentos sociais, como movimento ambientalista.

          Fica nítido que a ACE Pinhal percebeu com muito equilíbrio que pressionar indiscriminadamente o poder público para relaxar as regras de abertura ou mesmo a fiscalização seria prejudicial para o comércio, até porque havia a consciência de que a crise econômica já vinha desde o final do ano passado. Pior, notou que muitas pesquisas apontavam que as marcas que fossem vistas numa atitude que fosse contra as necessidades da saúde ficariam mal vistas pelo consumidor. Sendo assim, resolveu-se oferecer para os associados tudo que união, estado e iniciativas da própria sociedade civil poderiam oferecer para ajudar os comerciantes a se renovarem e lidarem com uma crise inegável: criou-se grupo em WhatsApp para informar associado; fez-se um inventário de cursos oferecidos online por instituições como o SEBRAE (ou criados pela própria associação); manteve-se os serviços de emissão certificado de origem e certificado digital com hora marcada; orientou-se sobre como promover o e-commerce; levantou-se as possibilidades de financiamento de gastos de custeio; promoveu-se reuniões de setores específicos com poder prefeitura. Ou seja, priorizou-se levantar todas as oportunidades disponíveis para os empresários pinhalenses.

             Como resultado, viu-se que muitas empresas conseguiram converter com eficácia seus negócios para os meios digitais; algumas, inclusive, conseguiram maior lucratividade. Houve sim uma colaboração da comunidade dentro do espírito de ação apontado pela ACE, como no caso dos pinhalenses que, apesar de morarem fora, elaboraram voluntariamente uma cartilha sobre “Como se reinventar em tempos de coronavirus”, que está disponível para baixar na internet  e foi oferecida também para a FACESP. Esta boa avaliação da postura do comércio em geral é perceptível nos grupos de Facebook voltados a debater sobre os problemas da cidade. Em resumo, a ACE Pinhal optou por uma relação de harmonia com a sociedade e com o poder público e está colhendo bons frutos, junto com seus associados.

               Parece ter sido uma opção local utilizar este período para fazer um balanço das possibilidades, entendendo que as mudanças que o distanciamento exige já estavam acontecendo e já havia um monitoramento deste processo. Mostra-se também uma consciência de que muita coisa vai mudar; mas várias outras não, entre elas, o fato de que comércio e serviços locais só prosperam se houver consonância entre mercado e sociedade. Esta lição que evita o alarmismo é um aspecto fundamental para se conseguir identificar o que realmente está mudando e o que sempre foi assim, algo crucial para aproveitar oportunidades em momentos de fortes transformações, e a ACE Pinhal tem muito a ensinar sobre observar o que existe para tomar as melhores decisões.

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com

 


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