Crescimento e Desenvolvimento: as lições da Acil (Leme)



Formada coma  chegada da ferrovia, a cidade de Leme conta com a Rodovia Anhanguera para continuar conectada com um desenvolvimento emparelhado com o que há de mais dinâmico no crescimento econômico global. Mesmo tendo uma indústria de destaque (sendo sede de uma regional da FIESP), está entre as poucas que apresentam mais de 70 % de sua atividade econômica no setor de serviços, estando entre as três com mais de 60 mil habitantes dentro deste percentual. Também merece destaque o fato de que se compararmos os números de serviços e comércio nos anos de 2009, 2011, 2013, 2015 e 2017, este setor sempre cresceu, mesmo com a crise econômica pós-2014. Estes dados históricos e estatísticos apontam a importância das atividades restringidas nos últimos meses devido ao coronavírus, e a importância da organização de seu setor comercial.

Além da complexidade exigida pelas características bastante contemporâneas de seu varejo, a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Leme (Acil) também representa as demandas de associados dos ramos industrial e agrícola, o que é comum em municípios menores mas nem tanto nos que estão na linha dos 100 mil habitantes. Isto explica o que parece ser a maior peculiaridade de sua ação: dar atenção à promoção de um ambiente de negócios envolvente na cidade e igualmente oferecer aos seus orientação constante sobre a organização interna das firmas. Ela oferece cursos e informações sobre vendas como as mais organizadas associações, além de serviços padrão como proteção ao crédito, plano de saúde e estágio. Mas é possível perceber claramente uma intensidade diferenciada na promoção de cursos e divulgação de informações de boas práticas administrativas, organizacionais e de relacionamento pessoal, além de mediar relações dos empresários com o ambiente exterior, como na relação com a Alemanha.

Pode-se dizer que esta característica de assessorar na dinâmica interna das empresas foi também uma marca no modo de lidar com as restrições causadas pela pandemia e com a crise econômica na qual estamos. Como em vários municípios, no dia 20 de março já foi decretada quarentena em nível local, confirmada por decreto estadual logo em seguida. Seguiu-se em Leme a linha de cooperação com as medidas de isolamento social por um lado, e por outro negociar com o poder público prorrogações de prazos para tarifas como energia e IPTU. Houve mesmo um equilíbrio tanto na conscientização dos que tiveram seus negócios impedidos de funcionar dos perigos da doença quanto, na medida em que a situação nãos e resolvia, em demonstrar para as autoridades o impacto em não se buscar alternativas para se retomar a economia.

Um elemento marcante nesta atuação é que mesmo antes dos decretos de fechamento expedidos no final de março, desde a metade deste mês já havia uma campanha informativa por parte de Acil sobre boas práticas sanitárias a serem tomadas diante do problema de saúde, além de já começarem a preparar seus associados para se organizarem para o que estava por vir. O site sempre foi muito rico em notícias e teve uma seleção de lives na internet para que o empresário pudesse escolher entre alternativas de ação, sendo qualificado com cada vez mais qualidade para tocar os negócios pelos meios virtuais. Para além da venda, orientou exemplarmente sobre as relações internas, inclusive na adoção do trabalho em casa.

Este olhar tanto para fora quanto para dentro das empresas pode ser causa e consequência de um enfoque tanto nos empresários quanto nos funcionários, garantindo bons ambientes de produtividade e qualidade de vida no tempo livre. Está em completa consonância com o princípio do crescimento com desenvolvimento, que consiste no fortalecimento nos negócios que promova melhora na vida das pessoas. Não é preciso prejudicar a geração de negócios para proporcionar um espaço saudável para o trabalho; aliás, isso aumenta a eficiência. Neste sentido, a Acil traz referências importantes para se pensar a retomada do mercado pós-crise, mesmo para a reinvenção, e realmente consegue responder às demandas de uma economia crescente e variada como a deste município, rumo à uma Revolução 4.0.

 

Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Aprendizado e alternativas no Projeto Inova Juntos – CNM: caso de Águas da Prata

A agroindústria na Economia Verde

POR QUE NÃO O PROTAGONISMO DO AGRO NA REINDUSTRIALIZAÇÃO?