Articulação e responsabilidade. Lições de Itapira
Fundada em 1939, a Associação Comercial e Empresarial de Itapira (ACEI) teve um caminho diferente da maioria das demais associações tratadas neste estudo, que em muitos casos surgiram na onda da informatização de serviços de proteção ao crédito. Além de estar inserida no contexto de um complexo turístico poderoso já estruturado, o Circuito das Águas, junto a Serra Negra, Águas de Lindóia e alguns outros municípios, Itapira também faz divisa com o fortíssimo Circuito das Malhas (MG) e com outras potencias industriais como Mogi Guaçu e Mogi Mirim. É a cidade que apresenta maior renda per capta dentre as 27 cidades aqui incluídas, superior até à média do Estado de São Paulo (R$48.839,64/habitante por ano). Sua indústria representa mais de 40% de sua economia, maior índice regional neste setor, e nos serviços cresceu entre 2007 e 2015, e está entre as poucas onde esta atividade também ganhou força no período da última crise, entre 2016 e 2017. Ou seja, trata-se de uma das mais pujantes economias da vizinhança e extremamente bem localizada.
Esta situação econômica confortável talvez tenha influenciado na postura desta associação comercial ao lidar com as restrições necessárias para lidar com a pandemia. Logo que saíram os decretos estaduais e municipais estabelecendo a quarentena, ao final de março, eles se posicionaram favoráveis aos cuidados na saúde, e suas principais demandas giraram em torno de solicitar à prefeitura adiamentos e parcelamentos na cobrança de tarifas, de impostos à conta de água. Aliás, em relação à cobrança de água, não só conseguiram isenção para os empresários durante a quarentena, mas também para a população em geral, consistindo num papel importante desta instituição para todos os itapirenses. Mesmo não tendo uma cooperação imediata por parte do poder público local, o diálogo foi construído e hoje a ACE possui duas cadeiras no comitê de crise.
Criou-e mecanismos de consulta ao empresariado local para que fossem formulados protocolos de funcionamento de supermercados, e agora para a reabertura do comércio e para o futuro funcionamento de bares e restaurantes. Em relação à busca de alternativas para as atividades econômicas dentro do contexto de restrições, houve uma campanha de valorização do comércio local, o que pode, inclusive, levar à uma condição melhor do que a que havia antes da pandemia. No caso do estímulo às vendas pela internet, já no ano passado foi implantada no município uma plataforma de vitrine virtuais para apresentar produtos e serviços, de modo que ela foi muito importante neste período de crise.
A postura de apoiar as medidas municipais e estaduais foi adotada tanto pela preocupação com os prejuízos à imagem das marcas que fossem contra o isolamento quanto por convicções da própria ACEI. Trata-se de um caso em que buscou-se uma medida entre AM vontade imediata (quase instintiva) dos comerciantes em flexibilizar e o diálogo com as determinações da área de saúde. É realmente complicado julgar erros e acertos em um período tão complicado como a quarentena, mas a atitude de cooperação com o poder público pode sim ser um exemplo para novas questões tanto relacionadas à economia como também à outras questões relacionadas à gestão municipal.
Link para introdução ao projeto “Com a palavra, as associações comerciais”
https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html
Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, líder do projeto RB Sustentabilidade 4.0. E-mail: marcosrehder@gmail.com
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