Renascimento da Rainha das Águas? Lições de Águas da Prata


 

Como foi visto nas tabelas sobre os perfis econômicos dos municípios da região, Águas da Prata é o município com a economia é mais dependente do setor de serviços na região, com o setor representando quase 80% do PIB. É uma cidade turística, com um potencial muito maior do que o explorado atualmente, e que passa dificuldades neste negócio desde os anos 1990, quando o balneário foi fechado. Mesmo com esta predominância do setor terciário, o município não conta com uma associação comercial, apenas com um pólo do projeto Empreender gerido pela ACE São João. Porém, nos últimos anos vem crescendo o turismo de aventura e o ecoturismo, também de esportes radicais, além de assistir ao crescimento constante da adesão ao Caminho da Fé e ser um tradicional ponto de encontro de grupos de motoqueiros e de fãs de carros antigos.

                Com o fechamento do cassino e o fortalecimento do Circuito das Águas, a capacidade de atração do turismo pratense foi perdendo força, o que levou ao fechamento de pelo menos três dos principais hotéis da cidade. O turismo de veraneio, muito ligado às propriedades únicas de sua água, que trouxe muita gente que inclusive se mudou para a cidade foi sendo substituído nos últimos anos pelo ligado à natureza exuberante que Águas da Prata oferece. Por isso, a organização deste setor pode ser a mola propulsora de um projeto de superação da crise econômica.

                Segundo Rafael Eduardo Gomes, presidente do Contur local e que trabalha com turismo rural e de aventura, este momento de crise exige uma rearticulação dos agentes econômicos da cidade que pode trazer um renascimento instantâneo da Estância Hidromineral. Há duas semanas foi feita uma reunião pela internet do conselho com empresários, onde foi posta a necessidade de que todos estejam preparados quanto aos cuidados sanitários para a retomada das atividades assim que ela acontecer. A reabertura será marcada pela substituição do turismo internacional e até interregional, feito por avião, por um turismo rodoviário, o que pões o município em uma situação privilegiada por estas no eixo São Paulo-Ribeirão Preto. Se o turista vier e ficar satisfeito, pode ser uma oportunidade de fidelização.

Constituindo-se um foco no turismo rural, de aventura e de esportes radicais, basta todo o setor de serviços estar centrado nesta retomada e em todos os cuidados que ela exige que pode haver um salto razoável nos negócios, envolvendo desde a rede hoteleira, parques, ate lojistas. Pode ser o momento esperado não apenas para uma organização institucional do setor de serviços através de uma associação, mas da economia local de modo geral. Outras iniciativas de organização da sociedade civil geradas para estruturar o comércio durante a pandemia foram tomadas, como criação de grupos no Facebook voltadas para delivery, como o “Fala Prata na quarentena”, criado por Cristina Lerosa e Cristina Pretti.

Pode-se dizer que esta pandemia criou condições para uma mobilização civil considerável em quase todos os lugares, e pode ser que aglutine diferentes lideranças locais em torno de uma pauta propositiva para o desenvolvimento de Águas da Prata, o que, ao meu ver, envolve a articulação de uma associação comercial: talvez o Contur seja o embrião. Esta deve estar articulada tanto ao turismo quanto ao abastecimento do cidadão que não trabalha no setor, muitas vezes até em outra cidade. Trata-se de uma instituição importante que permite um projeto de desenvolvimento até certo ponto independente do poder público, o que garante uma mínima estabilidade necessária para um projeto de futuro. Que esta síntese apresentada aqui possa ajudar em alguma coisa na busca de soluções.

Link para introdução ao projeto

https://rbsustentabilidade40.blogspot.com/2020/06/crise-com-palavra-as-associacoes.html

 

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, marcosrehder@gmail.com

 

               


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