Projeto "Com a palavra, as associações comerciais" III: indústria



            A indústria certamente pode liderar em nível regional este processo de recuperação econômica. Como a agropecuária, não parou durante a pandemia, além de não ter diminuído tanto o ritmo quando os serviços. Também conta com a maior organização de empresários, tanto em nível nacional quanto estadual e regional, além de termos industriais em praticamente todas as associações comerciais dos municípios (basta observar que quase todas as associações comerciais também são empresariais ou industriais): não foi por acaso que se escolheu a área de abrangência do CIESP para a escolha dos municípios deste projeto (e alguns vizinhos, que exercem forte influência sobre toda a região). Segue uma tabela com os dados da evolução da importância do setor industrial nos 27 municípios:





               Nos últimos 30 anos tivemos no Brasil um sensível processo de desindustrialização. Esta tendência ocorreu em praticamente todos os países ocidentais industrializados, devido à ascensão da produção chinesa,       eu oferece cada vez mais produtos e cada vez melhores. Porém, em nosso país esta queda da produção industrial foi mais forte do que na maioria dos outros países. Como pode ser observado, este fenômeno ocorreu na maioria dos municípios levantados na tabela acima, entre 2007 e 2015.
                É possível observar uma sensível redução da atividade industrial exatamente onde ela era mais forte em 2007 (municípios que tinham de 30% da economia neste setor), como em Caconde, Estiva Gerbi, Mogi Guaçu, Mogi Mirim, Porto Ferreira, Santa Rosa de Viterbo, São João da Boa Vista e São José do Rio Pardo. Nesta lista encontram-se alguns dos maiores PIB’s da região, o que torna estes dados ainda mais alarmantes., na medida em que este setor envolve uma enorme cadeia de fornecedores, consultores e demais prestadores de serviços que é bem maior que número de empregos diretos que gera. Em alguns, onde a produção industrial representa menos de 30% da economia, também observa-se redução do ritmo entre 2007 e 2015: Aguaí, Águas da Prata, Divinolândia, Itobi, Mococa e Santa Cruz da Esperança. Pouco se alterou em Cajuru, Cássia dos Coqueiros, Espírito Santo do Pinhal, Itapira, Pirassununga, São Sebastião da Grama e Tambaú. Contrariando a tendência geral, temos Casa Branca, Leme, Santa Cruz das Palmeiras, Santo Antonio do Jardim, Tapiratiba e Vargem Grande do Sul, onde houve aumento do papel do setor. Entre 2015 e 2017, tivemos diferentes reações à crise, o que deve ser avaliado caso a caso.
                 Devido à diversidade de setores da sociedade envolvida na produção industrial, que agrega valor e potencializa o uso de tecnologia e demais serviços especializados, como advocacia (assim, atraindo de forma diferenciada uma articulação com o ensino superior e com a pesquisa), a articulação com este setor é fundamental para a recuperação econômica. Como já foi dito, nossos empresários industriais estão de uma forma ou de outra integrados às associações comerciais municipais, e o que eles pensam precisa ser mais ouvido, inclusive através de suas organizações regionais, FIESP e CIESP. Apesar da importância de nossa agricultura, as políticas industriais precisam ser o mais exploradas possível para a recuperação pós-crise, tanto as de nível nacional como estadual e municipal; e na medida em que muitos moram em um município mas trabalham ou prestam serviços em indústrias de outros, é uma questão regional.

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, marcosrehder@gmail.com


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