Digitalização e humanização do comércio para superar a crise: lições da ACE Aguaí



Começamos nosso passeio pelas associações comerciais da região por Aguaí, município com mais de 34 mil habitantes, importantes centro logístico da região, com entroncamentos rodoviário e ferroviário, e com isso acesso rápido à outras importantes cidade, como Casa Branca, Pirassununga, Estiva Gerbi, Mogi Guaçu e São João da Boa Vista. Conta com empresas importantes, como a Cascavel e a Unilever, e uma Associação Comercial e Empresarial com mais de 200 associados, envolvendo comércio, indústria e agroindústria. Para escrever este breve panorama conversei com Wanderley Campos, antigo gerente, e Iago Valim, o atual, e com eles podemos tirar várias idéias que podem servir de inspiração para todos os nossos 27 municípios (ver a apresentação do projeto). Dois princípios básicos, que já estavam sendo implantados de modo programado e foram acelerados com o impacto da pandemia: o uso de plataformas digitais e a humanização.
              Com a série de restrições à atividade comercial exigidas pelo combate à pandemia, momento que eles têm muito a ensinar na medida em que seu atual gerente já trabalhou na área da saúde, o uso da internet passou a ser algo muito incentivado. Foi criada uma vitrine digital, onde os comerciantes podem apresentar seus produtos, além do já disseminado uso de redes sociais. Está para ser implantada uma plataforma de promoções propriamente dita, aonde os comerciantes poderão não apenas poderão ter um levantamento do quê cada tipo de cliente consome, mas também aonde mais seus clientes compram, sendo possível mapeara quais outros empreendimentos locais seu negócio está associado pelo consumidor.
                A compreensão deste mapeamento poderá ter como efeito a solução de um problema antigo e muito comum em municípios do porte de Aguaí: a idéia de que o concorrente necessariamente prejudica o seu negócio. Na medida em que um empresário compreender que a existência de opções locais prende o consumidor à cidade e o distancia das grandes plataformas de vendas online, de modo que o consumo se torna um elemento da identidade municipal, poderão entender que quanto mais negócios de qualidade na cidade melhor será o desempenho geral do comércio. A única forma de conviver com a concorrência das gigantes é o sentimento de que as opções locais são capazes de suprir os desejos, o que vai além de opções de produto e preços.
                Este fator sociológico começa na humanização do atendimento. Trata-se de algo difícil de ser atingido por meios digitais, sendo necessário a recorrer a fatores publicitários. Entretanto, quando ocorrer a normalização, a aceleração do uso de vendas digitais terá que ser acompanhado por uma forma mais pessoal de promover o processo de vendas: a compreensão da vontade do cliente através do diálogo e ouvir o que ele tem a dizer torna-se chave para capacitar o empreendimento atender a teia de vontades do cliente, a ponto de conseguir oferecer o que ele realmente pode querer. Isso exige o abandono do pragmatismo de “empurrar” mercadorias, construindo uma relação de confiança entre as pessoas.
              Pode-se dizer que existe uma estratégia para a crise em Aguaí, que nunca excluiu os cuidados com a saúde, mas sim explora algumas linhas que já estavam sendo alavancadas. Esta associação comercial possui bons canais de cooperação com o poder público municipal em vários temas, podendo cumprir um papel na esfera pública que vai muito além do assessoramento ao comerciante. Amanhã trataremos de um caso oposto, Águas da Prata, aonde os comerciantes apresentam alguma dificuldade em se organizarem, mesmo em um município aonde comércio e serviços representam 79,53% da economia (em Aguaí, é 54,37%); quem sabe esta iniciativa pode ser uma inspiração para a principal cidade turística da região.

Link para introdução ao projeto

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, marcosrehder@gmail.com

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