"Com a palavra, as associações comerciais" IV: COMÉRCIO E SERVIÇOS


       


       O setor de serviços vem aumentando de maneira assustadora nos últimos 50, 70 anos. Se por um lado, a mecanização diminuiu demais a quantidade de pessoas envolvidas diretamente no processo produtivo, por outro, a personalização cada vez maior dos produtos exige uma gama cada vez mais variada de profissionais, tanto para projetar mercadorias e processos produtivos (com suas máquinas e sistemas) quanto para comercializar estes produtos. Esta especialização também diversificou as possibilidades de qualificação profissional, tanto no nível técnico quanto no ensino superior. Pode-se dizer que o isolamento social exigido pela crise acelerou a implantação de uma série de inovações, que até então estavam acontecendo de modo gradual, como implantação em massa de ensino à distância, compras por internet e entregas em casa (inclusive, de supermercados), e em muita medida trouxe mudanças irreversíveis.
                Depois de publicar aqui reflexões sobre os setores de agropecuária e indústria na região, chegamos ao carro chefe desta série de artigos: o setor de serviços e comércio. Em nível municipal, certamente é o setor da economia mais organizado no país, dado que quase todos os municípios possuem ou querem ter uma associação comercial, e tem-se a clara noção da importância deste tipo de organização para desenvolver as economias locais. Segue uma tabela com a evolução da importância deste setor nas economias de cada um dos 27 municípios aqui tratados entre 2007 e 2017:



                Entre 2007 e 2015, antes da crise econômica nacional, seis municípios apresentaram um aumento proporcional no setor de serviços em torno de 20% ou maior: Aguaí, Casa Branca, Estiva Gerbi, Mogi Guaçu, Santa Cruz da Esperança e Santa Rosa de Viterbo; todas eram predominantemente agrícolas, com exceção de Mogi Guaçu. Um aumento entre 5 e 20 % ocorreu em Águas da Prata, Caconde, Cajuru, Itapira, Leme, Mococa, Mogi Mirim, Pirassununga, Santa Cruz das Palmeiras, São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo e São Sebastião da Grama, que seguiram a tendência mas de forma menos radical. Alguns municípios tiveram um crescimento muito tímido, como Divinolândia, Espírito Santo do Pinhal, Itobi, Porto Ferreira, Tapiratiba e Vargem Grande do Sul. Mesmo que muito tímida, a diminuição da importância nos serviços aconteceu em Cássia dos Coqueiros e Santo Antonio do Jardim. Mesmo com a crise de 2015, que em tese tirou o dinheiro da mão das pessoas e naturalmente diminuiria o consumo direto (ou seja, comércio e serviços), 9 municípios tiveram um crescimento da importância de comércio e serviços no seu PIB: Águas da Prata, Caconde, Espírito Santo do Pinhal, Itapira, Itobi, Mogi Mirim, Pirassununga, Santo Antonio do Jardim e São José do Rio Pardo.
                Tal qual as variações da agropecuária e na indústria, compreender estas discrepâncias entre os nossos municípios envolve um mergulho muito mais profundo do que este breve panorama pode dar. O importante aqui foi apontar tendências, expor o contexto que vivíamos antes desta crise, que promete ser pior que a de 2015 (pelo menos, durante este ano de 2020). A partir de terça passarei a falar individualmente do trabalho de cada associação comercial no combate à crise causada pela pandemia. Para quem não viu, segue o link para o artigo de introdução à este projeto “Com a palavras, as associações comerciais”:

Link para introdução ao projeto

Um ótimo final de semana a todos!

Marcos Rehder Batista, sociólogo, doutorando em Desenvolvimento Econômico no Instituto de Economia/Unicamp, pesquisador do NEA/Unicamp e do LEICI/Unicamp, marcosrehder@gmail.com

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