Sustentabilidade e ESG na renovação da atividade empresarial amazonense (Outubro 2023 - ACA)
Sustentabilidade e ESG na
renovação da atividade empresarial amazonense (Outubro 2023)
Oportunidades ao invés de
restrições, investimento ao invés de custo
Marcos Rehder Batista*
Em meados deste mês aconteceu em Manaus a
primeira edição da Campus Party Amazônia, entre os dias 11 e 15. Estiveram
presentes personalidades como Philip Fearnside (Nobel da Paz de 2007), Bruce Dickinson (banda Iron
Maiden) e Ramon Pires (Unicamp), e foi certamente um momento disruptivo na
formação de uma ecossistema regional de inovação. Segundo o espaço da Fundação
Rede Amazônia no Portal Amazônia, um dos destaques do evento foi a palestra de Michelle Guimarães sobre a adoção
de práticas de governança ambiental, social e coorporativa em startups (em
inglês, Environmental, Social, and
Governance – ESG), tema que permeou várias outras apresentações.
Muitas vezes confundidas com apoio empresarial
a projetos sociais e ambientais, pedagogicamente importantes, mas que pouco
alteram os produtos, processos e a interação das firmas em suas respectivas
cadeias de valor, critérios ESG são medidas de como tudo que gira em torna das
atividades fins das empresas (e seus parceiros) não apenas se adaptam a
exigências de Desenvolvimento Sustentável, como também orientam como elas podem
lucrar com isso. Trata-se de padrões fundamentais quando se pensa em uma
transformação da economia amazônica, principalmente se esta for direcionada
para a formação de um pólo de bioeconomia, usada como sistema de avaliação pela B3,
por arenas internacionais de negócio e até mesmo pelo Tribunal de Contas do
Estado do Amazonas (vide Acórdão 1697/2023, Processo 15.100/2021, de 29/9/2023).
Objetivo aqui é lançar os olhos para quais de
fato são os critérios ESG, abordagem de avaliação institucional que começou a
ganhar forma no final do Séc. XX, foi abraçada pelas Nacões Unidas em 2004 e
ganhou um padrão definitivo em 2011, através do modelo
universalizador Sustainability Accounting Standards Board (SASB),
oficialmente sob responsabilidade do International
Integrated Roporting Concil (IIRC). Neste padrão considera-se 5 fatores: meio
ambiente, capital social, liderança e governança, modelo de negócio e inovação
e capital humano.
No que tange ao meio ambiente, uma empresa
que segue os parâmetros ESG controla e mitiga os impactos sobre a qualidade do
ar e emissão de carbono em sua atividade, cuidados que garantem credenciais
internacionais e tem impacto positivo sobre a imagem. O bom gerenciamento do
uso de energia, de saneamento básico e uso da água não apenas soma-se ao
fortalecimento da marca, como também aponta para menores gastos com fatores de
produção, pois levam a um uso mais efetivo dos recursos usados na produção.
Do ponto de vista social (capital social),
observa-se o respeito aos direitos humanos tanto para funcionários quanto
clientes e parceiros, algo fundamental para a criação de um bom ambiente de
trabalho e de relacionamento. Ao enfatizar a importância da segurança de dados
e privacidade, não apenas gera confiança, como induz a uma maior efetividade no
armazenamento e processamento de informações, base da chamada Economia 4.0.
Cuidados com questões logísticas e qualidade do produto, além de práticas de
vendas preocupadas com o bem-estar, sabidamente são fundamentais para que a
empresa tire os melhores resultados do mercado onde está inserida.
Fechado os três primeiros fatores, o “Governance”
da ESG (Liderança e Governança), podemos dividir em duas preocupações
fundamentais: postura em relação aos concorrentes e em relação ao sistema em um
espectro mais amplo. É necessário que a empresa deixe claro em suas ações o
respeito a padrões éticos reconhecidos pelos pares e tenha um comportamento não
monopolista, garantindo a competição de mercado. Em relação ao sistema, deve
ser assertiva sobre seu controle de riscos financeiros e ambientais,
assegurando o bem-estar de todos os stakeholders.
Complementarmente, há 2 pontos fundamentais
na economia contemporânea: inovação e conhecimento (capital humano). A
necessidade de inovação tecnológica e gerencial tornou-se o cerne para a sobrevivência
e crescimento de qualquer negócio, focadas na mitigação dos resíduos e no
aprimoramento da inserção nas cadeias de valor. A atenção com a formação e a
qualidade de vida dos seus colaboradores, o chamado Capital Humano, é um
requisito básico, tanto na sua educação formal quanto na garantia de condições
saudáveis para que estes possam aprender-fazendo dentro da própria instituição
ou no setor de atividade.
Expus aqui apenas alguns pontos na tentativa
de contribuir para que os critérios de sustentabilidade discutidos
internacionalmente, em seu formato estabelecido para a unidade que faz tudo
acontecer – as empresas -, possam ser vistos menos como restrições e mais como
oportunidades para um novo direcionamento do desenvolvimento, um novo projeto de
parque industrial e um novo paradigma de negócios, mais lucrativo no longo
prazo. Por consequência, tive também como objetivo ajudar a elucidar que os
gastos para se atingir os critérios ESG podem deixar de ser vistos como custo e
passarem a constar com investimento, que traz retornos.
Se o empresariado amazonense busca um caminho
para se repensar, dar um pouco de atenção à estes parâmetros pode ser uma
orientação extremamente fértil, que coloque as atenções do mundo não apenas
pela floresta que possuem, mas como referência de uma nova economia mundial.
Futuramente voltarei ao tema, falando especificamente sobre o Índice de
Sustentabilidade Empresarial, correlato da governança ESG mais importante em
território nacional, desenvolvido pela antiga Bovespa (atual B3).
*Marcos
Rehder Batista, pesquisador do Núcleo de Economia Aplicada, Agrícola e do Meio
Ambiente (NEA+/IE-Unicamp), do SP in Natura Lab (FCA-Unicamp) do Centro de
Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG/EAESP-FGV)
Link da publicação original da ACA:
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